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domingo, 2 de agosto de 2015

La Paz: do Mercado das Bruxas ao Valle de La Luna

Como não havia voo da companhia aérea GOL para La Paz, emitimos a passagem até Santa Cruz de la Sierra e depois compramos uma passagem até o meu destino final pelo website da Boliviana de Aviación, uma das principais companhias aéreas do país. Obviamente, havia o risco de perder o voo em caso de atrasos da companhia brasileira, mas tivemos sorte. Acabou sendo uma forma prática e barata de chegar em La Paz, até por que conseguimos emitir a passagem até Santa Cruz com milhas.

O avião da Boliviana de Aviación não é algo que possa se chamar de novo, mas confesso que superou minhas expectativas. O lanche servido durante o voo era razoável e a viagem entre as duas cidades é super rápida. Para quem quiser economizar, há também a possibilidade de fazer o mesmo trecho de ônibus. Basta pegar um táxi até o Terminal Rodoviário de Santa Cruz. No entanto, a viagem é longa: cerca de 12h. Como já teríamos pouco tempo no país, preferi ganhar tempo indo de avião.

Trocamos Real por Bolivianos no próprio aeroporto de Santa Cruz de La Sierra e esperamos cerca de 3 horas, não havendo atrasos e ainda com a possibilidade de utilizar a excelente internet WIFI e gratuita do aeroporto. 

Para quem tiver interesse em comprar passagem pela companhia aérea boliviana, aqui vai o link do website na empresa: http://www.boa.bo/BoAWebSite/

Chegando no aeroporto de La Paz que, na verdade, fica em El Alto, a dica é pegar táxi até o hotel. Não aconselho seguir de transporte público. Toda a área em volta do aeroporto é feia e assusta um pouco assim que chegamos. O trânsito vai ficando cada vez mais caótico à medida que você se aproxima do centro da cidade e confesso que a esta altura eu estava um pouco assustado, especialmente quando o táxi entrou na rua do nosso hotel, localizado numa importante rua da cidade: a Avenida Illampu. A rua, que havia parecido ser tranquila durante as minhas pesquisas, era a pura representação do caos, com inúmeras barracas montadas nas calçadas e um número incontável de transeuntes atrapalhando a passagem dos carros. Mais parecia uma grande feira. Só depois soube que aquele comércio só é montado durante o período de carnaval e tem por objetivo vender objetos relacionados aos festejos, como os mais diversos tipos de máscaras e balas feitas de açucar e das mais diferentes cores.

O hotel em que nos hospedamos, o Rosario La Paz, não poderia ser melhor. Confortável, quarto amplo, limpo, com excelente café da manhã e muito bem localizado. Gostei bastante e me hospedaria nele novamente numa segunda visita à cidade. Na recepção, existe um serviço de agência de turismo, na qual você pode fechar diversos passeios. Na Calle Saganarga, bem próxima ao hotel, há também várias agências de turismo, mas como eu queria seguir a recomendação de repousar neste primeiro dia, evitando os efeitos do soroche, preferi reservar o passeio pela cidade de La Paz para o próximo dia, no próprio hotel. O valor pode ser pago em Dólar ou em Boliviano e, incluindo uma visita ao Valle de La Luna, localizado fora do perímetro da cidade, o valor ficou de U$ 40,00. Uma vez tendo o passeio reservado, utilizamos o resto do dia para descansar (confesso que minha vontade era já sair perambulando pela cidade, mas resisti).

Rosario Hotel La Paz

Como já falei em um post anterior, não gosto e não costumo conhecer uma cidade através de um city tour, uma vez que me sinto bastante limitado por esses tipos de passeios. No entanto, como já havia percebido que La Paz não seria uma cidade muito fácil de percorrer utilizando o transporte público e que o Valle de la Luna seria ainda de mais difícil acesso, optei por abrir uma exceção em La Paz. E não me arrependi. O tour acabou sendo privado e, na maioria dos locais que visitei, o tempo foi suficiente.

Como o hotel ficava bem próximo do famoso Mercado das Bruxas, começamos seguindo o guia a pé até este local. Ao contrário do que o nome possa indicar, as vendedoras das diversas barracas que compõem o mercado não são bruxas e, sim, as típicas cholas. Estas são as mulheres bolivianas que mantêm a tradição de usar as vestimentas típicas da sua cultura, com suas saias armadas, seus lenços coloridos, o cabelo dividido em duas tranças e, quando casadas, o típico chapéu-coco.

As cholas representam uma parte fundamental da paisagem boliviana. O chepéu indica que a mesma é casada. As cholitas, sem o chapéu são as solteiras. A cada geração, o número de mulheres que mantém a vestimenta típica se reduz.


No Mercado das Bruxas, as cholas vendem ervas medicinais (muitos locais, quando adoecem, preferem recorrer à ajuda das cholas do que dos médicos) e produtos típicos e específicos para que os bolivianos que ainda praticam a religião indígena possam executar seus rituais religiosos, como as oferendas aos seus deuses. Entres estes, a Mãe Terra e o Pai Sol, que receberiam as oferendas em troca de dádivas na vida do boliviano. Aqui já começava o meu fascínio pela cultura local: mesmo com a colonização espanhola forçando o cristianismo no país e, mesmo que a maioria da população local seja católica, muitos nativos ainda mantém a cultura indígena viva.

Mercado das Bruxas


Oferendas já preparadas para os deuses da religião indígena


Entre os produtos mais marcantes e bizarros expostos no mercado, destacam-se os fetos mumificados de lhamas. E, diferente do que alguns possam pensar, as lhamas grávidas não são sacrificadas para se obter os fetos. Estes, na verdade, são provenientes de abortos espontâneos sofridos pelo animal.

Fetos de lhamas

O Mercado das Bruxas se localiza na Calle Melchor Jimenez, mas qualquer city tour da cidade incluirá este ponto no roteiro e qualquer taxista saberá sua localização. Descendo esta mesma rua, é possível encontrar várias lojas de souvenirs e de casacos feitos a partir da tosa de alpacas. Pesquisando, dá para encontrar produtos bem baratos. Pela manhã, em torno das 9h, no entanto, a maioria das lojas ainda estão fechadas. Portanto não foi possível, naquela hora, entrar em nenhuma loja. Continuamos, então, seguindo o guia até uma das principais igrejas da cidade: a Igreja de São Francisco. O caminho percorrido pode ser visto no mapa abaixo.



A Igreja de São Francisco foi construída durante a época colonial pelos próprios nativos e, embora apresente uma arquitetura barroca européia, tem, em sua construção, alguns elementos da própria cultura indígena, o que não deixa de ser um reflexo da religiosidade mista que muitos bolivianos apresentam até os dias de hoje. Uma ótima dica para conseguir uma boa vista panorâmica da igreja é subir até o último andar do mercado que se localiza na praça em frente à igreja: o Mercado Lanza, repleto de pequenos restaurantes, nos quais, àquela hora, vários bolivianos faziam seu desjejum antes de seguir para o trabalho.

Igreja de São Francisco vista a partir do Mercado Lanza



A partir daqui, entramos na van, que, por sinal, só tinha a gente de turistas, e seguimos para um dos principais pontos do centro da cidade: a Plaza Murillo, onde se concentra a sede do governo da Bolívia. Embora tenhamos ido de van, a praça é bem próxima da Igreja de São Francisco, como pode ser visto no mapa abaixo, podendo ser, facilmente, acessada a pé.



A Plaza Murillo recebeu este nome em homenagem a uma das principais figuras históricas do país, Pedro Domingo Murillo, um dos principais responsáveis pela independência da Bolívia. Em volta da praça, podem ser encontrados: o Palácio do Governo, o Congresso e a Catedral, três belos prédios. No seu centro, uma estátua simboliza Pedro Domingo Murillo. Muitas árvores, muitas cholas e muitos guardas podem ser vistos na área (vimos, inclusive, o vice-presidente do país, saindo do Palácio sede do governo). Em frente ao prédio do Congresso, havia uma bandeira toda composta por vários quadrados de diferentes cores. Segundo o nosso guia, cada quadrado ali presente representa uma das 36 etnias indígenas ainda presentes na Bolívia. Pelo que pude perceber, o país ainda valoriza bastante a sua população e cultura indígenas.

Plaza Murillo

Monumento a Murillo no centro

Congresso Boliviano. Ao lado direito da Bandeira do país, vê-se a bandeira colorida que representa as 36 etnias indígenas da Bolívia

Catedral

Palácio do Governo e Catedral


Ali, na Plaza Murillo, também foi possível ver a troca da guarda, em suas fardas clássicas, em frente ao Palácio. Bem parecido com outras trocas de guarda que presenciei em outras cidades.

Troca da guarda



A Plaza Murillo foi, sem dúvida, uma das minhas atrações preferidas em La Paz e, de todas as praças principais das capitais latino-americanas que conheci (Buenos Aires, Santiago, Lima, Cidade do México e La Paz), esta é, por enquanto, a minha preferida!

Da Plaza Murillo, seguimos para uma das mais bonitas ruas de La Paz: a Calle Jaen. Esta é a única rua da cidade que manteve intacto toda a sua arquitetura colonial. A rua é linda, cheia de casas coloridas e bem estreita, só pode ser percorrida a pé e tem vários museus diferentes, entre eles: o Museu de Metais Preciosos ou, simplesmente, Museu do Ouro (repleto de relíquias em ouro e prata de civilizações pre-colombianas); o Museu do Litoral (com artefatos que remontam à Guerra do Pacífico); a Casa Murillo (antiga residência do líder revolucionário Pedro Domingo Murillo); e o Museu Costumbrista (o maior de todos e com diversos artigos históricos da Bolívia). Obviamente, se você tiver pouco tempo em La Paz, terá que escolher um ou apenas dois destes museus para conhecer. No nosso tour, estava incluso o ingresso para o Museu do Ouro. No entanto, o guia nos deu a opção de trocar o tempo no museu por um passeio no mais novo teleférico de La Paz. Como a Calle Jaen se localizava relativamente próxima ao nosso hotel, optei por fazer a troca e, após o fim do city tour, retornar à rua dos museus a pé ou de taxi (pena que meus planos foram frustrados como descreverei mais abaixo).

Calle Jaen



Agora era hora de seguir até o Mirante Kili Kili, um dos pontos mais indicados para se ter uma vista panorâmica privilegiada de La Paz. E garanto que esta é uma atração imperdível na cidade boliviana. É possível ter uma vista em 360 graus de La paz, entender sua geografia, visualizar suas construções e apreciar as inúmeras montanhas andinas que rodeiam a cidade, algumas  com seus picos permanentemente nevados. Entre estas, destaque para a majestosa Illimani (na verdade, um vulcão extinto), que tem uma das maiores altitudes da região, com mais de 6 mil metros de altura. Infelizmente, não consegui vê-la, devido às nuvens que a encobriam.

Chegando ao Mirante Kili Kili


Ao fundo, a Montanha Illimani coberta pelas nuvens




Saímos do Mirante Kili Kili, descendo inúmeras ladeiras da área da cidade habitada pela classe média de La Paz, até chegar no ponto mais baixo, onde se destacam os bairros com grandes e modernas residências, pertencentes aos mais ricos. Estes bairros pareciam pertencer a outra cidade, completamente diferentes das áreas menos favorecidas, embora ainda contenha a figura mais clássica e que melhor compõe as paisagens bolivianas: as cholas, que, diariamente, descem de suas casas nos altos dos montes para trabalhar naqueles casarões.

Réplica de esculturas encontradas no sítio arqueológico de Tiwanaku


A van continuou seu destino, se distanciando cada vez mais da área urbana, em direção ao espetacular Valle de la Luna, uma verdadeira obra da natureza, esculpida pelos ventos, pela erosão e pelo tempo. A área corresponde a uma grande formação rochosa que, por lembrar a superfície lunar, recebeu o nome pelo qual é conhecido e que se caracteriza por um terreno argiloso, aspecto que possibilita as inúmeras esculturas naturais forjadas pela natureza. Acredita-se que toda esta área era, há milhares de anos, um lago que, após secar, deixou a argila em seu lugar. É como se estivéssemos no fundo de um lago profundo, mas sem todo o peso da água em cima de nós. Como não poderia deixar de ser, a paisagem continua em constante modificação, sendo lentamente esculpida ao longo do tempo.

Valle de la Luna







A forma mais prática de se chegar ao lugar é através de excursões, embora seja possível seguir de táxi também. Mas neste último caso, o ideal é combinar com o motorista que o espere para retornar à cidade, uma vez que não vi ponto de táxi no local. Para quem for corajoso o suficiente para alugar um carro em La Paz, tem-se a vantagem de permanecer no Valle de la Luna o tempo que achar necessário. O ticket custou, na época, 15 bolivianos. Há duas trilhas que podem ser seguidas. Escolhemos a mais curta e permanecemos cerca de 20 min no local. Para quem quiser fazer a trilha mais longa, será necessário entre 40 a 60 min, o que não será possível caso você esteja em uma tour guiado.

Chegou o momento de seguir até o último ponto do city tour: o teleférico. Este foi inaugurado em 2014 e tem, como objetivo, ligar o centro de La Paz à região de El Alto. No entanto, pelo que percebi, vem se tornando também atração turística da cidade, uma vez que permite uma excelente vista de toda La Paz. O trajeto que fizemos demorou 10 min a ida e 10 min a volta. Chegando ao alto, não tem o que fazer e o mais indicado é já descer de imediato. Durante o trajeto de subida, você vai sobrevoando habitações cada vez mais precárias, muito semelhantes às nossas favelas (embora nosso guia repetisse constantemente que aquelas casas não eram nada parecidas com as nossas favelas!!).

Teleférico de La Paz

Vista do teleférico

Vista do teleférico


Terminado o tour, era hora de almoçar e seguir meu plano de percorrer algumas áreas da cidade pelas quais passamos rapidamente durante o passeio anterior, como as ruas em torno do Mercado das Bruxas e a Calle Jaen. Começamos pelas lojinhas de souvenir, ali bem perto do nosso hotel. No entanto, acabei apresentando  um problema de saúde (não relacionado ao soroche), impedindo minha ideia de seguir até a Calle Jaen para conhecer seus museus. Infelizmente, foi o jeito retornar ao hotel. À noite, eu já estava bem e saímos para conhecer uma excelente pizzaria da cidade que ficava quase em frente ao hotel e que atendeu às expectativas geradas pelas indicações prévias.



Chegava ao fim nosso passeio por La Paz, uma vez que, no dia seguinte, seguiríamos viagem até a cidade de Copacabana. Infelizmente, o tempo foi curto, não sendo possível fazer outros passeios nos arredores da cidade, como o sítio arqueológico de Tiwanaku (um dia ainda pretendo conhecer). Para os mais aventureiros, há também a possibilidade de andar de bicicleta por aquela que é considerada a estrada mais perigosa do mundo: a Estrada de la Muerte (mas dizem que o que tem de perigosa tem de bonita!!). Também é possível fazer um tour até Chacaltaya, um pico nevado da Cordilheira dos Andes que fica a mais de 5 mil metros de altura (recomenda-se já estar bem aclimatado para poder fazer este passeio).

Como é possível perceber, La Paz tem muita coisa para se conhecer, seja dentro ou fora da cidade, sendo ideal passar, pelo menos 3 dias. É uma cidade com uma cultura riquíssima, com paisagens que valem a viagem e com uma enorme vantagem: é barata!! Portanto, não esqueça de tentar incluí-la se pretende fazer uma viagem conjunta entre Bolívia, Peru e Chile!!







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