Primeiro dia em Praga. E confesso que minhas expectativas, depois de ter passado por Cesky Krumlov, haviam aumentado bastante. Saímos desta última às 5 horas da manhã de ônibus (super confortável por sinal; da empresa Student Agency) e chegamos à capital tcheca cerca de 3 horas depois. Seriam dois dias na cidade, mas que eu gostaria bastante que tivessem se transformado em três ou até quatro.
Nosso hotel (o Best Western Meteor Plaza) era super bem localizado, bem no centro histórico de Praga (próximo à Torre da Pólvora), o que facilitou bastante nossos deslocamentos, nos permitindo, facilmente, ir e vir a pé. Como chegamos bem cedo na cidade, teríamos um dia inteiro pela frente para curtir as suas principais atrações. Inicialmente, eu havia pensado em reservar este dia apenas para o lado do rio no qual estávamos hospedados, mas como minha ansiedade de percorrer logo os dois lados era grande, resolvi misturar tudo nos dois dias de passeio. E como tudo é relativamente próximo, esta foi uma decisão perfeitamente executável.
Começamos passando por debaixo da Torre da Pólvora, pegando o caminho em direção à praça principal da Cidade Velha. Esta é a única das torres, das que faziam parte da antiga muralha da cidade, que ainda se encontra de pé. O seu nome atual advém da sua segunda função na cidade, após deixar de servir para a defesa e proteção da Cidade Velha: o armazenamento de pólvora. É possível subir até o alto da torre para se ter uma vista da cidade a partir da mesma. São 186 degraus, mas que não encaramos, uma vez que já subiríamos outras duas torres da cidade.
Torre da Pólvora, vista a partir da praça Námestí Republiky |
Passando por debaixo da Torre da Pólvora, umas das 13 entradas que atravessava a muralha da Cidade Velha |
Após atravessar o portão da Torre da Pólvora, seguimos em frente pela rua Celetná até chegar a um dos principais pontos turísticos de Praga: a praça da Cidade Velha com seu famoso relógio astronômico. Durante o trajeto, duas coisas já chamavam a nossa atenção: a beleza dos prédios históricos e a multidão que já enchia a cidade. Mesmo sendo final de outono, época de baixa temporada, a cidade ainda fervilhava de gente. Talvez pelas ruas da cidade serem caracteristicamente mais estreitas, tornando a cidade antiga bem concentrada, esse efeito de multidão seja acentuado.
Seguindo para a praça principal. A multidão ainda nos aguardava mais a frente |
A praça principal é cercada por prédios históricos e tem duas atrações principais: o Relógio Astronômico de Praga (o Orloj) e a Igreja de Nossa Senhora de Tyn. No seu centro, encontra-se a estátua de um personagem histórico: Has, reformador religioso queimado vivo durante a inquisição. Também há restaurantes e umas barraquinhas simples de comida, mas bastante movimentadas. Mas o grande atrativo da praça é mesmo o seu relógio. A cada virada de hora, uma multidão de turistas se aglomera em frente ao mesmo, com o objetivo de ver a pequena encenação feita por bonecos representando os doze apóstolos e o canto do galo que ecoa a cada hora completa.
Relógio Astronômico de Praga |
Estátua de Has |
Igreja de Nossa Senhora de Tyn, localizada logo atrás dos prédios históricos que circundam a praça |
O relógio foi construído no século XV e colocado na torre que correspondia à antiga prefeitura da cidade (existe, inclusive, uma lenda que conta que o relojoeiro responsável por sua construção foi cegado, com a finalidade de evitar que o mesmo construísse um outro igual. Como vingança, o mesmo danificou o relógio antes de morrer e jogou uma maldição que levou à loucura ou à morte todos os homens que o consertaram posteriormente). Como característica marcante, especialmente se considerarmos a época em que foi fabricado, o relógio possui um marcador astronômico, que mostra a posição do sol e da lua ao longo do dia e a a movimentação das estrelas.
Confesso que para alguém que não entende nada de astronomia, como eu, o funcionamento do relógio não é tão fácil de entender. No entanto, eu fiquei hipnotizado pelo seu funcionamento, tentando compreender o máximo possível sobre o seu mecanismo. Não à toa, durante nossos dois dias em Praga, passamos mais de uma vez em frente ao relógio e, em todas as vezes, parei para observar numa tentativa de entender tudo o que ele representa.
Se eu entendi algo? Bem! Deixa eu compartilhar o que consegui compreender (com a ajuda da internet na hora, claro!!). Quem não tiver interesse sobre alguns detalhes do relógio pode pular os próximos parágrafos em itálico.
Está vendo o círculo preto mais externo? Adornado com uns símbolos esquisitos? Estes símbolos, em número de 24, representam uma escala de tempo tcheca antiga, os chamados numerais Schwabacher. Cada numeral corresponde a uma hora específica dentro das 24 horas. Bem mais fácil então, checar os números romanos em dourado mais internos que acompanham cada numeral tcheco correspondente e indicam a hora atual em Praga.
Em relação aos ponteiros, há um com a representação de um sol dourado e outro com a representação da lua. A medida que eles se movimentam, vão indicando a posição de ambos os astros em relação ao planeta. Quando o sol encontra-se sobre o fundo azul, pode-se acompanhar seu movimento durante o dia. Durante o nascer ou o pôr do sol, ele encontra-se nas áreas alaranjadas, permanecendo na zona preta durante a noite. A esfera que simboliza a lua também mostra a fase lunar correspondente a cada dia. Já o círculo mais interno do relógio representa os signos do zodíaco simbolizando os meses do ano.
De cada lado e abaixo do relógio, tem-se algumas estátuas com significados simbólicos. Do lado direito, é possível observar a estátua de um indivíduo segurando um espelho (a vaidade) e outro segurando um saco de dinheiro (a avareza). Do lado esquerdo do relógio, tem-se uma caveira segurando uma ampulheta (a morte) e uma figura simbolizando o paganismo. Estas quatro estátuas representam grandes temores da sociedade antiga de Praga. Abaixo do relógio, existem 4 outras estátuas representando, da direita para a esquerda: um cronista, um anjo, um astrônomo e um filósofo. Estas quatro figuras são separadas pela pintura de um antigo calendário tcheco que representa, em 12 imagens, as quatro estações do ano.
A cada virada de hora, a caveira localizada à esquerda do relógio vira a ampulheta em sua mão. Inicia-se, então, a procissão dos apóstolos vistos a partir de duas janelas, finalizando com o canto de um galo dourado localizado acima das janelas. Uma apresentação bem simples. Não vá esperando um grande espetáculo visual. Mas extremamente interessante quando consideramos a época em que foram instalados (só para esclarecer: os apóstolos foram acrescentados à torre apenas no século XIX).
Após assistir à virada da hora juntamente com a multidão de turistas que se colocavam diante da torre, fomos comprar o ingresso que daria direito a subir até o topo da mesma. O mesmo custa 120 CZK e vale muito à pena, considerando a bela vista que se tem da praça e da cidade lá de cima.
Subindo a Torre - grande vantagem: sem degraus |
Castelo de Praga visto a partir da Torre do Relógio |
A esta altura eu já estava fascinado por Praga!! A cidade não estava apenas atendendo como também superando as minhas expectativas!! Descemos da torre e seguimos para o interior da Igreja de Nossa Senhora de Tyn (entrada gratuita).
A partir da praça principal da Cidade Velha, partem várias ruas que vão se bifurcando em ruelas cada vez mais charmosas. Andamos um pouco por essas ruas e depois voltamos para a praça e optamos por seguir pela rua Pariska, que vai terminar à beira do rio Moldava, passando pelo antigo bairro judeu da cidade, onde é possível visitar a Velha-Nova Sinagoga de Praga e o antigo cemitério judeu.
Encontrando uma feirinha que vendia de souvenirs a frutas vermelhas |
Rua Pariska |
Velha-Nova Sinagoga |
Chegando ao Moldava, tomamos o sentido inverso, mas agora seguindo pela margem do rio, enquanto apreciávamos a beleza de suas pontes e do Castelo de Praga, localizado do outro lado. A intenção era a de caminhar até chegar a um dos principais marcos turísticos da cidade, a Ponte Carlos, a ponte mais antiga da cidade, e atravessá-la até a Cidade Baixa.
Chegando ao rio Moldava (ou Vltava) |
Ponte Carlos vista a partir da Cidade Velha / Monte Petrín ao fundo |
A Ponte Carlos, no entanto, não deve apenas ser atravessada. Ela deve ser apreciada. E, portanto, a travessia deve ser feita com calma. Afinal, há 30 estátuas barrocas adornando suas laterais, representando santos, figuras bíblicas e personagens históricas da cidade, como a de São João de Nepomuceno, que teve seu corpo jogado da ponte no século XIV após ter se recusado a contar o segredo da rainha contado no confessionário (vale ressaltar, que as estátuas presentes na ponte são réplicas, estando as originais expostas no Museu Nacional de Praga). Diz a lenda, que tocar no relevo de bronze localizado abaixo da estátua de São João de Nepomuceno traz sorte. Não consegui tocar neste dia devido à multidão fazendo fila, mas consegui esta proeza no dia seguinte.
Além das estátuas, em cada extremidade da ponte, há uma torre em estilo barroco, que podem ser visitadas (mais opções para se ver Praga do alto). A visita à torre do lado da Cidade Baixa custa 75 CKZ, enquanto no lado oposta (na verdade, um par de torres) custa 50 CKZ. Sinceramente, acho dispensável considerando que você pode subir a torre do relógio e ainda terá uma vista espetacular e gratuita a partir do Castelo de Praga. O que não falta em Praga é local para ser ver a cidade do alto.
Torre barroca que dá passagem à Ponte Carlos no lado da Cidade Velha |
A Ponte Carlos e o amontoado de turistas |
Chegando à outra extremidade da ponte / reparem no par de torres que comunica a Ponte Carlos com a Cidade Baixa |
Sem dúvida alguma, a Ponte Carlos é uma das pontes mais belas que já conheci. Mas tem uma característica desagradável: costuma estar constantemente lotada de turistas, tornando impossível ter uma visão desbloqueada de toda sua extensão. A dica aqui, para aproveitar um pouco da ponte sem uma multidão ao seu lado, seria visitá-la bem cedo da manhã ou numa hora mais tardia da noite. Infelizmente, não tive essa oportunidade e tive que me contentar em dividir aquele momento com os outros inúmeros turistas que, assim como eu, encontravam-se encantados pela beleza da Ponte Carlos e da vista a partir dela.
A passagem pela ponte não permite a presença de veículos, sendo restrita a pedestres. Ao longo de sua extensão, há vários vendedores de cartões postais e fotos da cidade, além de artistas de rua desenhando caricatura dos transeuntes. Mas, infelizmente, há também um número considerável de pedintes (bem mais do que vi na Áustria). E o que choca mais ao avistá-los é a forma como eles se posicionam: ajoelhados, com o corpo curvado e a cabeça no chão, numa posição estática e desconfortável mantida por um prolongado período de tempo. Pois é! Nem tudo em Praga é belo aos nossos olhos...
Chegando ao outro lado da ponte, seguimos em frente, numa rua inclinada cheia de restaurantes e lojas de souvenir (rua Mostecká). O número de turistas continuava intenso já que este era o caminho natural para seguir até o Castelo de Praga. Como este localiza-se no alto de uma colina, todas as ruas em sua direção são ladeiras que já começam a exigir mais do turista.
Chegando na Cidade Baixa |
E foi subindo por esta rua (mas antes parando em um dos seus restaurantes, onde experimentei o melhor salmão da minha vida!!) que chegamos à Igreja de São Nicolau. Esta abre das 10 às 17h (das 10 às 16h de novembro as fevereiro) e custa 70 CKZ. Não entramos. Continuo me recusando a pagar para entrar em igrejas. Para maiores informação sobre a igreja, incluindo a programação dos consertos que costumam ocorrer na mesma, pode-se acessar o site oficial.
A partir daqui, seguimos em direção ao Castelo de Praga. Traço, no mapa abaixo, o caminho percorrido para quem quiser chegar na cidade já bem orientado. Mas, de qualquer forma, não esqueça de andar sempre com um mapa em mãos (ou no celular) pelas ruas de praga.
Pelas ruas íngremes da Cidade Baixa rumo ao Castelo de Praga |
No próximo post, falarei sobre o Castelo de Praga e o restante do nosso primeiro dia na capital tcheca.
PARA SE PLANEJAR:
1. Torre da Pólvora
Horário de funcionamento: os horários de funcionamento variam de acordo com os meses do ano (checar no site oficial)
Entrada: 90 CKZ
Como chegar: de metrô (linha B até a Estação Námestí Republiky)
Site oficial: http://en.muzeumprahy.cz/199-the-powder-tower/
2. Torre do Relógio Astronômico
Horário de funcionamento: diariamente das 9 às 22h (nas segundas, funciona das 11 às 22h)
Entrada: 120 CZK
Como chegar: de metrô (linha A até a Estação Staromestská)
Site oficial: http://www.staromestskaradnicepraha.cz/en/
OBS:
1. Os preços indicados neste post correspondem aqueles em vigência na época da viagem. Recomendo pesquisar novamente os valores das atrações na época da sua viagem.
2. Este post não recebeu nenhum tipo de patrocínio
Olá! Estou lendo os seus posts sobre Praga pois pretendo viajar para lá em breve. Agradeço toda a experiência compartilhada! Muito bom! Só fiquei curiosa com o nome do restaurante que você comeu o salmão! Hehehe
ResponderExcluirAbraços!
Débora
Olá Débora! Fico feliz em estar ajudando a sua viagem com os nossos relatos! Sobre o restaurante, acredita que esqueci de anotar o nome? Só me dei conta disto quando estava escrevendo o post. Ainda tentei descobrir olhando o mapa e visitando a página de todos os restaurantes presentes na rua, mas não consegui identificar o restaurante, infelizmente.
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