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sábado, 16 de janeiro de 2016

Visitando Auschwitz na Polônia: triste, difícil, mas necessário

Nosso segundo dia na Polônia foi marcado pela visita a Auschwitz (neste post explico como agendar uma visita e ir até o campo de concentração por conta própria), um dos maiores símbolos do holocausto que assolou a Europa durante a Segunda Guerra Mundial. Construído a partir de 1940 para poder dar conta dos milhares de prisioneiros que não mais cabiam nas prisões convencionais, Auschwitz correspondia, na verdade, a um complexo de campos de concentração, sendo os maiores: Auschwitz I, principal campo e sede administrativa; e Auschwitz II-Birkenau, o principal campo de extermínio.

Auschwitz recebeu prisioneiros não apenas da Polônia, mas de toda a Europa, judeus em sua imensa maioria. Mas outros povos e grupos foram também presos e exterminados nos campos, entre os quais: poloneses não-judeus, ciganos, prisioneiros de guerra, testemunhas de Jeová, homossexuais ou qualquer um que não fosse visto pelos nazistas como dignos de viver. Ao todo, mais de um milhão de seres humanos foram mortos em Auschwitz, seja exterminados nas câmaras de gás (destino da maioria) seja mortos por doenças, trabalhos forçados ou como cobaias de experimentos. Um massacre...

Portanto, dá para imaginar que visitar o lugar não é nada fácil. É triste. É pesado. É difícil. Os inúmeros visitantes mantêm o semblante fechado. Pouco se ouve a voz das pessoas, com exceção dos guias, que tentam dar, a alguns grupos, uma noção do terror que assolou aquele lugar. Não se vêem sorrisos. Estes dão lugar às lágrimas, ao sentimento de impotência, à tristeza de se imaginar como o ser humano pode ser capaz de imprimir tamanho mal aos seus próprios irmãos...


Sim!! Porque o tamanho do horror que foi esse episódio da nossa história recente é bem maior do que podemos imaginar... Você pode assistir a mil filmes, ler inúmeros livros, obter toda e qualquer informação sobre o holocausto... Mas apenas visitando um lugar como este, você conseguirá ter uma ideia real do sofrimento ao qual o povo judeu foi submetido... 

E, mesmo em um mês já frio no pais, em época de baixa temporada, Auschwitz estava lotada. Especialmente por jovens. Muitos em grupos de excursão. Imagine o quanto isto é positivo: desde cedo, estes jovens já estão entendendo até que ponto o ser humano pode ser cruel. Eles não estão enxergando o passado através apenas dos livros de história. Eles estão visitando o passado. E, assim, talvez, aqueles jovens se tornem pessoas ainda mais humanas, que, talvez, perpetue mais paz do que ódio por onde passem. E estes, obviamente, é um dos motivos de se manter um local marcado por tanta tristeza aberto para ser visitado... Não devemos nunca esquecer ou negar o que aconteceu, pois apenas, assim, será mais difícil repetirmos os mesmos erros...

Logo na entrada de Auschwitz, vemos placas em homenagem àqueles que, através de doações contribuíram ou ainda contribuem para a manutenção do lugar, entre eles o cineasta Steven Spielberg e o governo de inúmeros países (uma pena perceber que o Brasil não estava entre eles, ao contrário da nossa vizinha Argentina). 

No portão de entrada, a clássica frase "O Trabalho Liberta" em alemão já dá o indício do tamanho da ironia com a qual os nazistas viam sua própria maldade...






Ao longo da visita, há inúmeras placas informando sobre detalhes do lugar: função de cada construção, acontecimentos, números de prisioneiros, dia a dia dos mesmos...



E o lugar é, infelizmente, bem maior do que nós imaginávamos. São inúmeros blocos de prédios de dois andares. Em vários destes prédios, funciona uma espécie de museu do holocausto. Em alguns, visitamos as salas onde os prisioneiros eram amontoados em condições sub-humanas. Vemos salas onde eram interrogados e torturados. Vemos exposições de roupas, de sapatinhos de crianças, de pertences, das malas que não mais voltavam para as mãos de seus donos. Em uma sala, um vidro percorre uma parede inteira, nos separando de toneladas de cabelos... Uma das visões mais chocantes que tive no local... Os judeus tinham seus cabelos cortados para serem utilizados na confecção de roupas a serem vendidas pelos alemães nazistas... O ser humano servindo de matéria-prima para a crueldade... Impossível conter as lágrimas...







Em um dos prédios, as paredes estão repletas de fotos dos inúmeros judeus que ali morreram. Em uma das salas, as fotos de inúmeras crianças, algumas mortas, outras com destino desconhecido, outras que sobreviveram à tragédia. Em algumas fotos, flores foram deixadas, talvez por algum descendente que viajou até Auschwitz para prestar homenagem e conhecer o local onde seu avô ou avó perdeu a liberdade, a dignidade e a vida...

Entre dois prédios específicos, um paredão... Aos seus pés, muitas flores e velas... Aquela é a parede onde inúmeros prisioneiros foram fuzilados... Quantas vidas foram ceifadas naquele local? Uma parede que continua em pé para reflexão... Uma placa em frente pedindo respeito pelas inúmeras vidas, ali, perdidas...

Pelas ruas entre os diversos blocos, jovens com a bandeira de Israel em suas costas caminhavam, ouviam o relato dos educadores ou apenas choravam...



Ao final, uma sala, em específico, difícil de visitar. Com suas paredes enegrecidas pela fumaça proveniente dos corpos dos judeus que eram ali carbonizados, a sala mantém ainda os fornos no local. Até hoje não sei se foi apenas impressão minha, mas meu olfato teve a nítida sensação se sentir o cheiro de fumaça dentro daquela sala. Mais pesar, mais lágrimas...



Saímos de Auschwitz I e pegamos o ônibus para Birkenau. Aqui, vemos logo uma linha do trem que, em seus vagões, traziam centenas de judeus amontoados. Durante a viagem, muitos já não resistiam. Chegando a Birkenau, um por um era inspecionado. Se tinha condições de trabalhar ou alguma utilidade para os oficiais, sua vida era poupada. Caso contrário, seguiam para as câmeras de gás. Com a desculpa de que iriam apenas tomar banho, inúmeros judeus eram colocados em uma sala sem suas roupas. No lugar da água, o gás venenoso.



Birkenau é enorme. São várias construções, onde os judeus eram amontoados sem a menor dignidade. É possível ver que algumas foram destruídas numa tentativa infrutífera dos nazistas esconderem seus crimes quando a guerra foi perdida. Uma das locomotivas que levava os judeus para o inferno que era aquele lugar, encontra-se exposta sobre o trilho.





Embora tenha me parecido maior, Birkenau tem menos o que se conhecer, uma vez que as exposições estão alocadas nos prédios de Auschwitz I.

Para completar a sensação de tristeza e pesar, o dia na Polônia estava nublado, cinzento e chuvoso. O chão entre os blocos dos campos, enlameado. As árvores, ao redor, nuas e sem vida. Todo o ambiente em volta parecia chorar...

Como é possível perceber, visitar Auscwitz não é fácil, não traz o mínimo de prazer, deixa o visitante triste e com um sentimento ruim no peito. Mas, não por isso, deve deixar de ser visitado. Não devemos nunca esquecer o passado ou fechar os olhos para a crueldade. Lembrar para não se repetir jamais...

Afinal de contas, alguns anos antes do Holocausto, em 1915, cerca de 1,5 milhão de armênios foram dizimados pelos turcos. Mas ninguém aprendeu nada após essa crueldade. Que as mais novas e futuras gerações nunca se esqueçam das monstruosidades praticadas pela própria humanidade. Que Auschwitz permaneça de pé, continue sendo continuamente visitado e sirva para manter na lembrança de cada um nós que a intolerância, o preconceito e o ódio são os mais nefastos sentimentos do planeta...

"Aqueles que não lembram o passado estão condenados a repeti-lo"

Acredito que a visita a Auscwitz nos tornou pessoas mais humanas...

Triste, mas necessário...


OBS:

1. Este post não recebeu nenhum tipo de patrocínio

14 comentários:

  1. Fui a dois campos de concentração na Alemanha (Berlim e Munique) e fiquei super tocada. Imagina ir no Auschwitz.. Arrepio só de pensar! Não dá para entender como o ser humano pode ser tão cruel...

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  2. Nossa, quanta tristeza. Só de ver as fotos fiquei arrepiada. Lendo me senti na sua pele. Acho que não aguentaria uma visita dessa.

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  3. Muita tristeza, muita maldade, mas eu amo história e ela não deve ser esquecida. Sem dúvida é um local a ser visitado! Parabéns pelo post.

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  4. Meu irmão esteve lá e falou da energia do lugar! Eh realmente muito triste pensar que isso aconteceu e ainda acontece com esses grupos terroristas como o EI. A experiência deve mudar nossas vidas. Amei seu relato.

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  5. Forte. Mas é isso temos que relembrar para não repeti-lo. Emocionante relato. Não sei se tenho coragem de visitar só de ver suas fotos deu frio na espinha. otimo post

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  6. Só de ver as fotos já dá um arrepio e uma sensação de tristeza. Ainda assim quero ir, mas imagino que não seja muito fácil mesmo.

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  7. Frequentemente tento inserir alguma piadinha nos meus comentários, mas nesse post não dá. O negócio é muito sério, triste, lúgrube. E, sim, gostaria de visitá-lo. Primeiro porque nós, que somos bem aventurados, precisamos conhecer o que há e o que houve de ruim nesse mundo, para que não vivemos em uma bolha; e, segundo, pelo que você fala, pelos dizeres da placa - que isso jamais seja repetido.

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  8. Sei muito bem como é isso! Fui a Hiroshima no Japão e no Museu sobre a bomba atômica senti uma sensação muito ruim, sai chorando e só consegui tirar foto da entrada. Mas é una forma de não esquecermos todo o mal causado para que nunca se repita!

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  9. Nossa! Visitei um lugar semelhante em Israel, chamado museu do holocaustro e saí de lá muído emocionalmente falando. Deve ser um a viagem inesquecível... Muitas história. Valeu pelo post, imagino que te marcou bastante essa trip

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  10. Nossa, quanta tristeza! O local deve ter uma energia muito pesada mesmo, com tanti sofrimento, tantas mortes! Nao sei se aguentaria esse passeio!

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  11. Comecei arrepiar quando comecei ler, passa um filme na minha cabeça com essas imagens e relatos. Eu sinceramente não gosto de visitar lugares assim, me da uma tristeza um sentimento ruim. Admiro sua coragem!

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  12. Sei que é importante, mas não sei se conseguiria visitar esse lugar. Tanta crueldade, tanto sofrimento. Ainda fico sem palavras ao pensar em como o homem teve coragem de tanta atrocidade (e continua tendo...). Obrigada por compartilhar, é preciso lembrar o quão terrível foi para que não se repita!

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  13. Nossa! Que dificil... ja senti o coracao apertar de ler esse post, imagino estar ai! Nada facil ver os resquicios dessa triste realidade tao de perto... quanta crueldade, Jesus amado!!! Pesado ne? ;/

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  14. realmente é uma viagem totalmente dificil quando o turismo se transforma em compaixão pelas pessoas que sofreram ali.

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