Quando o assunto é viagem, todo mundo tem uma opinião ou conselho para dar. Muitos desses palpites são, no entanto, baseados em mitos ou, então, naquela velha premissa de que nós temos que seguir certas regras pré-estabelecidas quando resolvemos viajar. É como se até mesmo nosso maior momento de lazer tivesse que ser guiado por mais um conjunto de normas.
Mas deixa eu te adiantar uma coisa: quando viajamos, somos nós mesmos que fazemos nossas próprias regras. A única satisfação que você tem que dar é para as suas próprias vontades. Portanto, não se limite e veja abaixo algumas destas pseudoregras:
1. "Se você foi a Roma e não viu o Papa, você não foi a Roma"
A velha e chata regra de que se você vai a alguma cidade específica, você tem que, automaticamente (e obrigatoriamente), fazer algum programa específico dessa cidade, como andar de gôndola em Veneza, subir a Torre Eiffel em Paris ou ver o Papa em Roma.
Deixa eu te contar uma coisa: eu não tive a menor vontade de passear de gôndola por Veneza. Achei monótono e caro e preferi apenas caminhar pela cidade. Isso quer dizer que você também tem que achar monótono? Claro que não! Se seu maior desejo é passear de gôndola pelos canais de Veneza, por favor, faça o passeio. O que eu quero dizer é: faça o que você deseja. Mas não faça ou deixe de fazer algo em uma viagem só porque alguém disse que, assim, deveria ser feito.
Já em Paris, subi na Torre Eiffel e adorei. E subirei novamente quando retornar a Paris. Mas conheço quem não teve vontade de fazer o mesmo, mas amou Paris da mesma forma.
Também não vi o Papa nas duas vezes em que fui a Roma. E posso te garantir uma coisa: eu fui a Roma sim!!
2. "Antes de começar a viajar, você tem que estabilizar sua vida, ter uma gorda poupança e garantir sua casa própria"
É aquela antiga história de ter que estar com a vida completamente nos eixos para poder começar a pensar em viajar. Afinal, você tem que investir seu dinheiro em imóveis, bens materiais e cadernetas de poupança antes de "jogar tudo no lixo" com algo tão banal quanto viagens.
Primeiro: viajar é também uma forma de investimento. Não financeiro, claro, mas um investimento em você mesmo, na sua alma, no seu amadurecimento e crescimento pessoal. E como tudo na vida, devemos encontrar um equilíbrio entre todas as formas de investimento. Focar todas as nossas forças no lado financeiro apenas é limitante, vazio e chato!!
Entenda: não estou dizendo que você deve jogar tudo para o alto e sair torrando todo o seu dinheiro pelo mundo. Mas, sim, que você deve encontrar um equilíbrio. Claro que é preciso uma certa estabilidade e um pouco de dinheiro inicial para começar a viajar, mas isso não significa que você precisa esperar estar com a "vida ganha" (ou você pode apenas começar a viajar quando a artrose nos joelhos não te deixar mais caminhar um quilômetro pela Quinta Avenida ou subir as ladeiras de Olinda).
3. "Você não deve passar menos de 5 dias em Paris, mas também não vá passar mais de dez".
Detesto este tipo de intimação. É lógico que, se você visita uma cidade pela primeira vez, você terá dúvidas de quanto tempo permanecer nela e vai precisar de uma opinião de quanto tempo seria o suficiente. A questão é que o tempo suficiente para você poderá ser completamente diferente do tempo suficiente para outra pessoa.
Cada um tem um ritmo de viagem. Alguns gostam de passar horas sentado em uma praça qualquer apreciando o movimento dos habitantes de uma determinada cidade. Outros são mais elétricos e preferem passar o dia caminhando de um bairro para outro, de uma atração para outra. Cada um fica feliz do seu modo.
E, portanto, você pode planejar cinco dias em Paris e, durante o passeio, perceber que foi pouco ou, ao contrário, que foi demais. Quando retornar à cidade, basta reajustar o tempo. Mas não precisa chegar para seu amigo e deixá-lo ansioso dizendo que aquela quantidade de dias que ele planejou em Paris será insuficiente. Você pode dizer algo do tipo: "para mim, esse tempo seria pouco, mas tenho um ritmo mais lento. Para você, talvez, seja o tempo ideal. Mas se você fizer o estilo "turista mais relaxado" como eu, é bom rever o roteiro".
E se o seu roteiro permitir apenas uma passagem de apenas um dia naquela cidade que você quer tanto conhecer, por que não? Você pode voltar depois para passar mais tempo nela, concorda? Aconteceu conosco, recentemente. De repente, nos vimos com apenas um dia disponível para passear por Budapeste. Valeria à pena? Claro que um dia na capital húngara não seria suficiente para conhecer tudo. Mas nós, realmente, precisávamos conhecer tudo de uma só vez? Queríamos tanto ver Budapeste que acabamos decidindo por encarar um dia apenas na cidade. E, de forma alguma, nos arrependemos. É óbvio que queremos voltar para conhecer com mais calma e com mais detalhes. Mas nosso dia único em Budapeste foi super proveitoso!
4. "Você nem conhece o Brasil todo ainda e já vai viajar novamente para o exterior? Você deveria primeiro conhecer o seu país melhor e, só depois, viajar tanto para outros países"
Esta, para mim, é a pior de todas as pseudoregras. É como se quem fala isso quisesse dizer: "você está esnobando o seu próprio país".
O que a pessoa não entende é que: não existe uma lei escrita em lugar nenhum do mundo dizendo que é pré-requisito básico desbravar o próprio país antes de visitar outros; cada um tem o livre arbítrio de viajar para onde quiser; viajar para o exterior não significa esnobar o próprio país; qualquer um pode, tranquilamente, intercalar viagens nacionais com viagens internacionais.
E se a gente fala em Brasil, a gente tem que ter em mente duas questões básicas: o país é o quinto maior do mundo e, portanto, seriam necessários anos para percorrer toda a sua extensão antes de eu poder me dar o direito de viajar 3, 4, 5 ou quantas vezes quiser para o exterior a cada ano; viajar pelo Brasil é muito caro, muitas vezes, mais caro do que viajar para fora. Conheço amigos que desistiram de uma viagem para o Rio porque a viagem para o Chile estava mais barata. Eu mesmo já fiz cotação de uma viagem para Bonito umas duas vezes, mas acabei desistindo diante dos preços absurdos. Turismo no Brasil pode sair, relativamente, bem mais caro do que uma viagem para o Leste Europeu, por exemplo.
Portanto, deixem as pessoas se sentirem livres para viajar para onde quiserem e bem entenderem. Afinal, é possível passar a vida passeando pelo Brasil sem ter que abrir mão de visitar culturas, paisagens e arquiteturas completamente diferentes e enriquecedoras ao redor do mundo. basta se organizar!
5. "Você precisa viajar o máximo que puder antes de ter filhos, porque depois que os tiver não conseguirá viajar mais"
Pois é, já vi muita gente que adora viajar ansiosa por conta deste mito. Mas entenda que ter filhos não é igual a parar de viajar. Vai haver mudanças? Claro que sim! Afinal, ao viajar sem os filhos, você terá saudade e acabará optando por viagens mais curtas, além de ter que limitar mais a frequência das viagens, especialmente, no primeiro ano do recém-nascido.
Mas você não deixará de viajar! Não posso falar por mim, mas conheço vários casais que continuam planejando suas viagens mesmo com um, dois e até três filhos. E conheço também quem continua desbravando o mundo acompanhado dos filhos, mesmo estes ainda pequenos. Tudo, mais uma vez, depende de organização e disposição.
Filhos não limitam uma viagem. Filhos apenas tornam a volta para casa, após uma viagem, um momento repleto de alegria.
Concluindo, qualquer regra que venha a limitar seu prazer durante uma viagem é, na verdade, uma pseudoregra. Afinal, regra nenhuma deve existir quando o assunto é viagem. Apenas compre a passagem, arrume as malas, e vá, se jogue e desfrute da forma que mais bem fizer a sua alma!
Nenhum comentário:
Postar um comentário