Afinal, Hong Kong é ou não China?
Digamos que sim e não. A rigor, Hong Kong faz parte da República Popular da China, desde 1997, quando deixou de ser colônia inglesa, mas mantém uma certa independência no que diz respeito a uma série de fatores: política de imigração, moeda local, economia, sistema judiciário. Como resultado, a cidade tem uma considerável autonomia e apresenta algumas diferenças básicas em relação ao restante do país que devem estar na mente dos turistas que se aventuram pela cidade:
Moeda local em Hong Kong (e na China)
Embora a China tenha o yuan ou renminbi (CNY ou RMB) como moeda oficial, Hong Kong utiliza outra moeda: o dólar de Hong Kong (HKD). Portanto, se você pretende transitar entre a cidade e o restante do país, lembre que terá que fazer o câmbio de uma moeda para outra (ou já levar yuan do Brasil).
No nosso caso, optamos por levar yuan e dólar americano do Brasil, trocando este último apenas por HKD já em Hong Kong. Afinal, encontramos facilmente yuan nas casas de câmbio brasileiras (ao contrário de HKD) e quanto menos trocas de moedas realizarmos, menos dinheiro perdemos.
Como é de se esperar, as duas moedas não tem uma valorização semelhante frente ao real. O dólar de Hong Kong costuma ter uma variação cambial mais favorável do que o yuan para nós brasileiros. Mas não se engane. Hong Kong é uma cidade bem mais cara do que o restante do país, de forma que gasta-se muito mais na antiga colônia inglesa do que no restante da China.
Durante nossa viagem, tivemos muito mais flexibilidade financeira fora de Hong Kong, tendo, inclusive, sobrado yuan. Já o HKD era vendaval em nossas mãos. Não lembro de nunca ter percebido tanto o peso no bolso em uma viagem como em Hong Kong (e olha que a viagem para o Canadá pesou bastante!!).
Dica: não se confunda ao ver, na China, valores expressos em CNY e em RMB. É a mesma coisa, a mesma moeda. Apenas há dois símbolos diferentes.
O yuan chinês |
Política de Imigração em Hong Kong (e na China)
Hong Kong não exige visto para brasileiros, mas para acessar o restante do país precisamos de um visto específico. Isso mesmo. Se você estiver em Hong Kong e quiser ir até Pequim, terá que ter um visto válido para passar pela fronteira. Portanto, não tem como transitar entre Hong Kong e as demais cidades da China sem passar pelo serviço de imigração. É quase como se estivéssemos mudando de país.
Já falei tudo sobre essa diferença de política de imigração e como tirar o visto chinês em outra postagem, incluindo algumas dicas importantes para quem pretende montar base em Hong Kong e ficar indo e vindo pelo restante do país.
Comunicação em Hong Kong (e na China)
Em Hong Kong, é fácil se comunicar em inglês. Afinal, a cidade foi colonizada pelos ingleses desde o século XIX até 1997 (exceto durante um período durante a Segunda Guerra Mundial, quando o Japão assumiu o domínio sobre a cidade). Deste modo, você dificilmente terá problemas em encontrar alguém que fale a língua inglesa pelas ruas de Hong Kong, o que, obviamente, ajuda a vida do turista.
Em compensação, encontrar alguém que fale inglês no resto do país é o oposto de fácil. Um verdadeiro trabalho hercúleo. E não encare isto como exagero. Eu acreditava que seria menos difícil do que via relatado na internet. Mas não. A imensa maioria da população chinesa não fala inglês e não entende nem mesmo a palavra english. Muitos se recusam a entender o que você está tentando falar mesmo por mímicas. Em um momento de desespero, por exemplo, tive que começar a gritar I need help na tentativa de encontrar alguém que falasse o idioma e nos salvasse (e conseguimos).
A principal dica que deixo é: ao encontrar alguém que fale inglês (eles, em geral, se mostram bem solícitos e simpáticos) pergunte tudo o que puder e peça para que eles escrevam algumas informações básicas no idioma chinês em algum papel, caso você precise de nova informação mais a frente e não encontre mais ninguém que fale inglês. Falo sério!! Esses papéis com escritas em chinês podem ser a sua salvação!!
Nossa salvação |
Cultura em Hong Kong (e na China)
Hong Kong costuma ser chamada de "Nova York do Oriente" e, sim, muito da metrópole lembra a cidade americana e o apelido se justifica. No entanto, prefiro a denominação de "onde o Ocidente se encontra com o Oriente". Afinal, embora exista uma enorme influência ocidental sobre a cidade (foram mais de 100 anos sendo colonizados pela Inglaterra), você também vai encontrar muito da cultura chinesa por suas ruas, seja nas inúmeras barracas de rua vendendo espetinhos de tudo que é possível colocar num palito, seja na culinária local, seja na prática de tai shi shuan nos parques, seja nos templos budistas, seja nas lanternas chinesas enfeitando as ruas.
Tai chi chuan no parque |
Que tal um pé de galinha para ir saboereando pela rua? |
Ao mesmo tempo, tudo isso convive com grandes marcas ocidentais, uma mão inglesa no trânsito, aqueles ônibus de primeiro andar tipicamente londrinos, nomes de ruas que fazem referência à monarquia britânica, uma ou outra igreja católica ou sinagoga e habitantes de etnia ocidental indo para o trabalho. Uma mistura interessante.
Não é Pequim, não é Londres, não é Nova York... é Hong Kong...
Algo escrito em chinês. Ao lado, o inglês. Uma loja da Adidas ao fundo. Só pode ser Hong Kong. |
Obviamente, o mesmo não acontece no restante do país, onde a influência ocidental é bem menor, o que não significa que ela não exista. Afinal, famosas marcas de automóveis, eletrônicos, roupas e fast foods estão presentes mesmo em cidades pequenas como Yangshuo.
Alguns hábitos típicos do povo chinês também são pouco vistos em Hong Kong. Por exemplo, é comum ver o chinês acocorado enquanto espera algo (eles parecem amar esta posição), hábito que, praticamente, não vimos na população de Hong Kong. E por falar em ficar acocorado, este hábito acaba determinando uma característica singular dos banheiros chinesas. Eles não utilizam privadas, mas fazem suas necessidades em buracos no chão. E isso ocorre nos banheiros públicos do país, inclusive em aeroportos e estações de trem. Já nos hotéis mais acostumados em receber o turista ocidental, as privadas estão presentes (para o nosso alívio). E em Hong Kong, todo banheiro, em qualquer lugar, tem privada (pelo menos, não vimos o buraco chinês em nenhum local da cidade).
Banheiro na China |
Hospedagem em Hong Kong (e na China)
A primeira diferença básica entre a hospedagem em Hong Kong e no restante do país é o custo. Os hotéis em Hong Kong são muito mais caros. Aliás, se você quiser ficar num local um pouco mais confortável, terá que abrir mais a carteira.
Há, basicamente, dois tipos de hospedagem em Hong Kong: redes de hotéis normais como as que conhecemos no Ocidente (incluindo, redes famosas) e uma espécie de pousadas que funcionam em um determinado andar de um prédio (enquanto, nos demais andares, moram habitantes da cidade ou funcionam outros estabelecimentos). A vantagem dessa segunda opção é o preço mais em conta. As desvantagens: quartos minúsculos, nos quais só cabem a(s) cama(s) e uma ou duas mala(s); banheiros também minúsculos; dificuldade para encontrar (como vi, várias vezes, relatado na internet).
Mesmo com as desvantagens, nossa primeira decisão foi de se hospedar na segunda opção. No entanto, acabamos encontrando um hotel normal, cujo valor do quarto (espaçoso e confortável), estava 400 reais a mais, o que valeria à pena, já que seríamos três para dividir o quarto. E, assim, escapamos, do cubículo. Mas continuamos sem café da manhã (caro demais).
Já nas outras cidades da China, é possível encontrar opções bem mais baratas e, como em outras cidades do mundo, você pode escolher entre hotéis e hostels. No entanto, para o turista ocidental, os segundos parecem ser mais vantajosos. Primeiro, claro, porque são mais baratos. Segundo, porque os recepcionistas costumam falar inglês e, acredite, isso é mais difícil de acontecer nos hotéis (ao que parece os hotéis costumam receber mais os turistas do próprio país, diferente dos hostels, de modo que estes últimos acabam se adaptando melhor aos ocidentais). E se você nem considera a possibilidade de dividir o quarto ou o banheiro em um hostel não se preocupe: há muitas opções de quartos com banheiros privativos e por excelentes preços.
Tanto em Guilin quanto em Yangshuo ficamos em hostel, os quartos eram confortáveis e o atendimento era eficaz, além de ser de uma utilidade enorme ter recepcionistas falando inglês em um país como a China.
Internet em Hong Kong (e na China)
Em Hong Kong, temos acesso irrestrito à internet e às redes sociais. Há wifi grátis em vários pontos públicos da cidade e alguns hotéis tem a praticidade de fornecer aos hóspedes um chip gratuito para você usufruir de internet 3G no seu celular ao longo do dia. Sem dúvida, a melhor ideia de um hotel em anos de hospedagem pelo mundo!!
A única ressalva é que, para manter o 3G funcionando, você deve, em alguns momentos do dia, parar para visualizar propagandas que são disponibilizadas no seu celular. Mas vamos combinar: em um minuto você faz isso e é um preço praticamente nulo considerando a vantagem de ter internet em tempo integral com você!
Já após atravessar a fronteira de Hong Kong com o resto do país, a coisa muda um pouco. Embora tenhamos visto wifi de graça em alguns locais públicos das cidades pelas quais passamos na China, o acesso não é aberto a tudo que existe na internet. E algumas redes sociais, como o facebook, são bloqueadas pelo governo, não podendo nem mesmo ser acessada com o wifi do hotel. Mas não se preocupe: o whatsapp já é liberado por lá e há uma maneira de se conseguir acessar o facebook (ou você acha que os chineses não tem realmente acesso?). Mas deixarei para dar esta dica em outro post.
Ah! E se você tiver conseguindo desenrolar um chip 3G como expliquei acima, ele deixará de funcionar assim que você atravessar a fronteira.
Pelo que deve ter dado para perceber, se você incluir Hong Kong na sua viagem à China, estará praticamente visitando dois países diferentes. Não por acaso, muita gente em Hong Kong quer a independência. Cheguei a ver uma manifestação pelas ruas da cidade (com direito a correria, policiais e pneu queimado...tenso!!) e acredito que tenha relação com esse desejo de independência, mas não consegui me certificar do real motivo.
Se fosse independente, certamente, por tudo que vimos, seria um país desenvolvido. Afinal, a cidade tem uma estrutura que não deixa nada a desejar a outras cidades desenvolvidas que já visitamos antes.
OBS:
1. Este post não recebeu nenhum tipo de patrocínio
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