Quando publicamos as melhores fotos das nossas viagens nas redes sociais (escolhidas a dedo), mesmo sem ter esta intenção, acabamos criando naqueles que as vêem nas telas dos seus celulares e notebooks uma imagem glamourizada da nossa jornada por lugares, cidades e países ao redor do globo. Afinal, o que mostramos é apenas uma parte - a melhor parte - do todo que compõe a nossa viagem.
Nas fotos, não aparecem as longas esperas em aeroportos, a correria para pegar uma conexão a tempo, as malas sendo puxadas escada acima nas estações de metrô, o desespero para resolver um problema de última hora, as bolhas nos pés de tanto caminhar, a dor nas costas, a dificuldade em se levantar cedo da cama para pegar o trem, as mais de 24 horas sem banho...
Assustou-se com o parágrafo acima? Pois é! Se você sonha com aquela linda viagem pela Europa e acha que tudo que fará é apenas aproveitar e relaxar ou você tem dinheiro sobrando para se esbaldar no luxo ou você não tem a mínima noção de que, na maioria das vezes, viajar também requer sacrifícios.
Já perdemos as contas de quantas vezes ficamos mais de 24 horas sem banho, já que tínhamos que deixar o hotel em uma cidade ao meio-dia, mas só teríamos acesso ao quarto do hotel na próxima cidade, às 14 horas do dia seguinte.
Também não fazemos ideia de quantos quilômetros já percorremos a pé. Afinal, para se viajar tanto não podemos ficar gastando dinheiro com táxi. E, sinceramente, tem melhor forma de se conhecer uma cidade do que batendo perna por suas ruas? Claro que, com isso, vêm as bolhas nos pés, vem o joelho machucado, vem a distensão muscular.
Afinal, já estamos ali mesmo. Não vamos deixar de subir os mais de 200 degraus para ver uma cidade do alto de uma torre ou descer outros mais de 300 para ver uma cascata de perto (mesmo sabendo que teremos que subir de volta).
Muito menos acordaremos às 10 horas da manhã para explorar uma nova cidade. Numa viagem, dormimos o essencial para recarregar as baterias. Se eu quiser dormir até tarde, fico em casa. Se nos jogamos no mundo, é porque queremos explorar o mundo. E ninguém conhece o mundo dormindo.
E se você quiser se livrar daqueles roteiros engessados de excursões, que não te permitem experiências como um piquenique em um parque da cidade ou mais tempo para apreciar aquela paisagem magnífica que tanto te encantou, você terá que estar preparado para imprevistos.
Já fomos surpreendidos com um trem que antecipou a sua saída sem que fôssemos informados (e tínhamos um transfer nos aguardando no ponto de chegada para nos levar a outro país). Já nos vimos à meia-noite perdidos na China sem transporte para o nosso hotel que ficava a quilômetros de distância e sem conseguir encontrar ninguém que falasse inglês. Já tivemos trens cancelados por greve na França. O que fazer? Pensar rápido, se virar como der ou simplesmente sair gritando "I need help" como fiz na China (e funcionou!).
E você acha que passamos a viagem inteira comendo do bom e do melhor? Acredite. Nós não vamos publicar a foto daquele sanduíche do McDonalds ou daquele kebab horroroso que comemos no improviso para economizar. Afinal, duas boas refeições por dia não cabem no orçamento. Ou até cabem, mas aí teríamos que diminuir uns dois dias da viagem. E esta opção, nem pensar!
E já passou pela sua cabeça que antes de tirar aquela linda foto na praia de Barcelona, a gente passou meia hora puxando mala pelas escadarias do metrô, perguntando-se o tempo todo porque não trouxemos menos roupa na bagagem? Sim! Nem todas as estações de metrô da Europa tem escadas rolantes e elevadores. Nem tudo é tão bonitinho como algumas pessoas imaginam.
Estava pensando que tudo era luxo e glamour? Às vezes, estamos mais para lixo mesmo de tão cansados e doloridos. Mas quer saber? Vale muito a pena! Vale super a pena! Vale todas as bolhas, todas as dores musculares, todos os sustos, toda a correria, todo o sono... Porque, no final, o que fica mesmo na nossa memória, ou melhor, na nossa alma, é a recompensa disso tudo, é a paisagem deslumbrante que se enraíza na nossa memória, é o monumento icônico que deslumbra os nossos olhos, é a aula de arte e história que nos ensinam prédios, ruas e praças, é o sabor daquela comida, daquela fruta, daquele doce que se impregna em nosso paladar, é a experiência vivida e sentida que só mesmo uma viagem pode proporcionar.
Portanto, quer viajar? Jogue-se no mundo. Mas não se iluda: nem tudo é glamour. Não existe viagem gourmet.
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