França de norte a sul

A primeira coisa que posso falar sobre a França é que o país é muito mais do que apenas Paris. Os seus encantos vão muito além das ruas e monumentos parisienses. Obviamente, é a Torre Eiffel, o Moulin Rouge, a Notre-Dame que ocupam um lugar privilegiado no imaginário daqueles que sonham em viajar até a França. E isto não é em vão. Paris é, sem dúvidas, encantadora. Mas o restante da França, com seus belos vilarejos, sua invejável natureza, seus imponentes castelos e sua riqueza histórica, encantam igualmente.

Paris

E, desta vez, foi possível perceber isto percorrendo a França de carro de norte a sul, da Normandia à Côte d´Azur. Obviamente, não haveria tempo suficiente para explorar o país inteiro (para isto, serão necessárias ainda muitos retornos), mas escolhi alguns lugares e cidades pelos quais passaríamos na nossa road trip: Etrétat, Mont Saint-Michel, Lyon, Marselha, Cassis. Outros lugares foram excluídos devido alguns imprevistos: Annecy, Chamonix. Enquanto outros surgiram meio que de repente: Amboise, Gordes, Rousselion.

Mont Saint-Michel

Os imprevistos variaram desde condições climáticas desfavoráveis até uma greve dos funcionários ferroviários do país que nos forçaram a mudar alguns destinos. E, assim, um roteiro previamente organizado teve que sofrer algumas mutações e adaptações, mas que, de forma alguma, comprometeram a viagem. Muito pelo contrário, algumas surpresas, como os belos vilarejos que percorremos na Provença, deixou a viagem ainda mais encantadora.

Gordes, vilarejo da Provença

Resumidamente, nosso roteiro acabou sendo dividido da seguinte forma:

Parte 1: Paris e Versailles

Parte 2: viagem de carro pela Normandia, saindo de Paris e passando por Etrétat antes de chegar ao Mont Saint Michel; retornando a Paris com um pequeno desvio da rota para visitar pelo menos um castelo do Vale do Loire.

Parte 3: nova viagem de carro, saindo novamente de Paris mas agora em direção ao sul, pernoitando em Lyon, e depois atravessando a Provença até chegar a Marselha (daqui partimos de ônibus para Barcelona)

E qual foi o resultado de toda esta rota percorrida? A melhor viagem que já fizemos. Isto mesmo! Depois de tantos lugares percorridos pelo mundo, nossa road trip pela França acabou sendo a mais agradável de todas as nossas viagens. E a escolha de percorrer vilarejos franceses, conhecer o tão sonhado Mont Saint-Michel e visitar um pedacinho da Côte d´Azur foram alguns dos fatores que contribuíram para isto.

Calanques de Cassis, na Côte d´Azur

E a viagem acabou se tornando uma coleção de pequenos grandes momentos: comprar morangos e cerejas frescas na beira da estrada para depois degustá-los sentados no chão de um vilarejo provençal; lambuzar-se com um crepe de morango com Nutella, em frente à Torre Eiffel; ouvir o barulho das ondas do Canal da Mancha sobre as pedrinhas de uma praia da Normandia; banhar-se na gelada água do Mediterrâneo em um lugar paradisíaco após uma cansativa trilha; apreciar um cantor de rua cantando La Vie en Rose em uma esquina de Montmartre...

Etrétat, praia da Normandia

Foram tantas sensações, tantos momentos, tantos sabores, tantas experiências...

E tudo só contribuiu para aumentar nosso encanto pela França, país repleto de clichês, mas de clichês que não apenas se mostraram verdadeiros como também fundamentais para a nossa jornada.

Afinal de contas, todos dizem que a gastronomia francesa é inigualável e, felizmente, nossos paladares puderam confirmar esta afirmação. Os sabores franceses são, sem dúvidas, inesquecíveis. Das entradas às sobremesas é tudo tão bem preparado, temperado, apresentado, que é impossível não se deliciar. E que saudade eu sinto quando recordo dos crepes, dos macarrones, dos peixes do mediterrâneo, das saladas, dos cafés, dos cremes brullé.

Fala-se também que a França (especialmente Paris) inspira os casais apaixonados. Não à toa, tantos pedidos de casamento são feitos em frente à Torre Eiffel e tantas luas-de-mel tem Paris como destino dos sonhos. Andando pelas ruas de Paris, é possível ver noivas posando para fotografias e casais de mãos dadas às margens do Sena, aproveitando todo o romantismo que a Cidade Luz oferece.

E por falar em Cidade Luz, este título não poderia ser mais apropriado. Mas engana-se quem acha que este título foi dado devido à bela iluminação noturna da cidade. É verdade que Paris e, especialmente, seus monumentos (com destaque para a Torre Eiffel) esbanja beleza durante a noite. No entanto, foi o movimento conhecido como Iluminismo, surgido após as "trevas" da idade Média e e que teve a França como berço, que fez com que Paris ficasse conhecida como a Cidade Luz.

Afinal, foi lá que se concentrou inúmeros artistas, cientistas e pensadores, atraídos pelo caldeirão de ideias que fervilhava na cidade. E, assim, Paris tornou-se um grande museu a céu aberto. Cada prédio, cada ponte, cada praça, parecem ter sido construídos com o objetivo de se tornar uma obra de arte.

Ponte Alexandre III, uma das obras de arte a céu aberto de Paris

E, assim, também arte e Paris se tornaram termos intimamente interligados. Não por acaso, é lá que se encontra um dos museus mais cobiçados do mundo, o Louvre, entre outros que encantam os turistas, como o D´orsey e o de Rodin. Não à toa, Paris foi o berço de Claude Monet, um dos mais famosos pintores do mundo e Victor Hugo, que encantou o planeta com suas obras literárias.

E toda esta ebulição artística não se restringiu apenas a Paris. Em Amboise, Leonardo da Vinci foi viver seus últimos dias a convite do rei. Em Versailles, os salões de seus palácios e a beleza dos seus jardins mostraram porque arquitetura e paisagismo são também arte. Em Lyon, Saint Exupéry escreveu uma das obras literárias mais famosas do mundo, O Pequeno Príncipe, e os Irmãos Lumière inventaram nada mais do que a Sétima Arte. O país inteiro é um caldeirão cultural.

Jardins de Versailles

E o que dizer sobre o clichê da França ser o país da moda? Basta prestar atenção na elegância dos parisienses que desfilam pelas ruas da capital francesa. Basta passear pela famosa Champs-Élysées.

E, no final, Paris (e o restante da França) confirma todos aquelas clichês dos quais sempre ouvimos falar. Mas não faz isso de forma negativa. Muito pelo contrário, presenciar toda esta mistura de clichês dá um charme especial à viagem.

O único inconveniente mesmo (para não dizer que tudo foi perfeito) foi a mudança climática. Em pleno mês de junho, quando a temperatura deveria aumentar e o céu se pintar diariamente de azul, uma frente fria imprevista resolveu esconder o sol durante toda a nossa passagem por Paris e despencar a temperatura média em cerca de 10 graus. Detalhe: quase não levamos roupa de frio. Já deu para imaginar a gente repetindo o casaco todos os dias, né? Confesso que foi difícil controlar meu mau humor com os dias nublados completamente inesperados. Ainda bem que Paris ajuda (e muito!) a melhorar o nosso astral...

A cheia do rio Sena

Mas o que a frente fria trouxe mesmo, para os franceses, foi prejuízo, com enchentes na própria capital francesa, fazendo o Sena transbordar (o rio estava inavegável) e o próprio Louvre ser alagado. Felizmente, o sol resolveu aparecer quando partimos para o sul rumo a Lyon e os dias nublados e rios transbordados (incluindo toda a região do Vale do Loire) foram ficando para trás.

Nas próximas postagens, relatarei toda a nossa passagem pela França, incluindo dicas e sugestões. Deu para perceber que voltamos encantados com o país, não é mesmo? E quer saber o que mais contribuiu para isso? Não restringir nossa viagem apenas a Paris. Concordo que a capital é fantástica, mas a França tem muito mais a oferecer. São muitos sabores, muitas paisagens, muitos castelos e muitos vilarejos que merecem ser aproveitados, certamente, em mais de uma viagem. A França que nos aguarde novamente!


OBS:

1. Este post não recebeu qualquer tipo de patrocínio