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terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

A charmosa Cassis e suas incríveis calanques

E, finalmente (e infelizmente), chegou o nosso último dia na França. O destino escolhido: Cassis, uma pequena cidade da região da Provença que, por estar localizada na costa francesa do Mediterrâneo, faz parte da famosa Côte d´Azur. Daqui, você pode partir de carro em sentido leste, em direção a outros famosos destinos da Riviera Francesa, como Nice e Cannes, por exemplo. Nossa viagem, no entanto, se limitaria apenas a Cassis desta vez, já que, de Marselha, partiríamos para Barcelona, em um ônibus, ainda naquela noite.

Cassis

E por que, exatamente, escolhemos incluir Cassis no nosso roteiro? Além da proximidade com Marselha (são cerca de 30 Km de distância), de onde partiríamos para a Espanha, eu havia ficado hipnotizado pelas fotos do Parc National des Calanques, área natural da costa francesa do Mediterrâneo, que se localiza exatamente entre Marselha e Cassis (veja o mapa abaixo).

Mapa mostrando o Parc National des Calanques entre Marselha e Cassis

Mas o que, afinal, são calanques? Geograficamente, são formações rochosas à base de calcário (e outros minerais) invadidas pelo mar (no caso o Mediterrâneo) que forma baías de águas calmas perfeitas para o banho. Visualmente, são fantásticas, uma dessas belezas da natureza, as quais não resisto. O fator limitante? O acesso, como pode se deduzir vendo o mapa acima.

Melhor mostrar as calanques em foto do que tentar descrevê-las

São duas as formas de se acessar as calanques: pelo mar, através de barcos que saem tanto de Cassis como de Marselha; ou através de trilhas e, neste caso, Cassis oferece trilhas populares entre os turistas (mas que, por envolver subidas e descidas, não são muito fáceis). Qual opção escolhemos? Uma das trilhas partindo de Cassis e passando, em ordem, pelas seguintes calanques: Port Miou, Port Pin e d´En Vau (esta última, o nosso ponto final e a mais difícil, entre as três, de ser acessada). Foi difícil? Para quem não o tem costume de fazer trilhas, como nós, foi bem mais difícil do que imaginávamos, mas valeu muito à pena, considerando a incrível beleza da região, como detalhamos mais abaixo.

Como chegar a Cassis?


Caso você esteja com um carro alugado e de posse de um GPS, não encontrará dificuldade em chegar na pequena cidade litorânea de Cassis. No nosso caso, havíamos devolvido o carro na noite anterior, em Marselha e, portanto, nos sobraram duas opções para chegar à cidade: ônibus ou trem a partir de Marselha.

Na verdade, não há muita diferença entre as duas opções. Os terminais ferroviário e rodoviário de Marselha se localizam no mesmo prédio: a Estação Saint-Charles. E o valor da passagem quase não diferia na época: 5,60 euros ida-e-volta para o ônibus (em um trajeto de 30 minutos) e 5,80 euros ida-e-volta para o trem (em um trajeto de 25 minutos). Ambos partem com muita frequência ao longo do dia. Por preferência pessoal, acabamos escolhendo o trem.

Vale ressaltar que a estação de Cassis fica distante do centro. Mas não se preocupe: há um ônibus que faz o trajeto até o centro ao custo de 1 euro (ida e volta) e cujos horários estão conectados às chegadas dos trens. Assim que desembarcamos, o motorista encostou o ônibus e, prontamente, seguimos viagem.

Para acessar o centro e as praias de Cassis, você deverá descer na última parada do ônibus: Casino. Logo ao descer, verifique a placa com os horários em que os ônibus partem desta mesma parada de volta à estação (Gare SNCF) e, de preferência, fotografe-a para não perder a hora do último ônibus.


Ponto de ônibus na saída da Gare SNCF. A estação é minúscula, não tem como se perder

Horário dos ônibus nos dois sentidos: Gare SNCF - Casino e vice-versa.

É possível também ir de trem para Cassis, partindo de outras grandes cidades, como Paris e Lyon, mas sempre com baldeação em Marselha.

A cidade de Cassis


Cassis mistura o charme de uma pequena cidade francesa como o clima litorâneo de uma típica cidade à beira-mar. Para os europeus, não acostumados com praia como nós brasileiros, a cidade tem o seu maior atrativo nas praias e, assim, você verá vários banhistas com suas toalhas estendidas nas principais praias da cidade. Feirinhas vendendo, em sua maioria, produtos voltados aos banhistas (mas também souvenirs) funcionam pela manhã. E inúmeros restaurantes e sorveterias estão dispostos próximo ao coração da cidade: o Port de Cassis.

Do porto, partem barcos de passeios pelo Mediterrâneo, tendo as calanques como principal destino. Há passeios em torno de 15 euros por pessoa, mas esse valor deve variar bastante, dependendo do tamanho do grupo e do nível de conforto pretendido.

E, embora a gente esteja acostumado a associar a palavra "porto" a um lugar sujo e feio, não é o caso aqui. Toda a área em volta do porto é limpa, bem cuidada, com muitas flores e belas construções.

Port de Cassis


Praia localizada ao lado do porto

No topo dessa colina à beira-mar, o Chateau de Cassis, onde funciona um hotel




Para facilitar a sua vida, especialmente, se você pretende fazer a trilha pelas calanques, há uma Oficina de Turismo ao lado do porto (veja a localização exata no mapa abaixo). Foi lá que, com muita simpatia, nos deram um mapa mostrando exatamente o caminho que deveríamos fazer para chegar às trilhas e seguir à Calanque d´En Vau. E não teve erro em encontrar o início da trilha com a orientação da funcionária.

O mapa mostra a localização exata da Oficina de Turismo de Cassis, ao lado do porto


Aproveitamos e ainda tiramos uma dúvida que estava nos atormentando: se havia algum banheiro público onde pudéssemos tomar banho ao retornar da trilha? Afinal, pegaríamos um ônibus noturno saindo de Marselha para Barcelona e não teríamos mais hotel para tomar banho naquele dia. Felizmente, a funcionária nos indicou um banho público por 1 euro, bem próximo à Oficina de Turismo. E, assim, partimos para a trilha das calanques aliviados por poder tomar banho na volta.

A trilha das calanques de Cassis

A primeira coisa que você precisa saber é que há mais de uma trilha a ser realizada pelo Parque Nacional das Calanques. Nós, nem um pouco acostumados a fazer trilhas, escolhemos uma das mais simples, a que ia apenas até a calanque dÉn Vau, passando por Port Miou e Port Pin. 

A segunda coisa é que não há nenhuma estrutura no parque, seja nas trilhas seja nas praias encontradas pelo caminho. Portanto, leve sua comida e sua água porque você não encontrará onde comprar nada disso. E leve muita água. Embora eu já soubesse disso, tive a péssima e estúpida ideia de levar apenas 1 litro d´água para duas pessoas. Isso mesmo. Eu cometi esta asneira e, obviamente, passamos sede. Muita sede. Antes mesmo de chegar ao destino final, a água já estava quase acabando. E só não acabou porque percebemos logo nossa burrada e começamos a economizar. 

São cerca de 3 horas para ir voltar pela trilha (uma hora e meia em cada sentido). Claro que você tem que adicionar aí o tempo para descansar e as paradas para fotografia. Além do banho de mar no destino final, óbvio! 

Ah! E uma terceira coisa: a trilha não é plana. Há subidas e descidas pelo caminho (algumas bem íngremes). Confesso que, neste aspecto, fomos pegos de surpresa, pois imaginávamos apenas uma trilha plana. Agora imagina: o sol escaldante, a água acabando, o calor e o cansaço aumentando a cada subida e o medo de se perder (a sorte é que haviam muitos turistas fazendo a mesma trilha). 

Eita! Você deve agora estar imaginando que nós nos arrependemos. De forma alguma!! É cansativo, passamos sede (muita sede!!) e até agora não conseguimos ter certeza do que é pior: subir (mais cansativo) ou descer (mais perigoso, com as pedras que rolavam o tempo todo). Mas o visual faz tudo valer à pena. A natureza é sempre incrível e nunca decepciona. E as calanques de Cassis valem o sacrifício.

Para chegar ao início da trila, você terá que, a partir da Oficina de Turismo, dar a volta pelo porto e seguir pela costa litorânea sempre no sentido oeste em direção à Avenue des Calanques. Aqui, começa uma longa ladeira que só vai acabar quando você chegar ao início da trilha numa área de chão de terra que parece servir de estacionamento (portanto, se estiver de carro, não precisa fazer este trecho inicial pela cidade caminhando).

O mapa mostra o trajeto entre a Oficina de Turismo de Cassis e a Avenue de Calanques. O ponto especificado como Calanque de Port Miou é, na verdade, o início da trilha

Seguindo pela Avenue de Calanques


Já próximo ao início da trilha, você vai começar a ver, do alto, um pedacinho do mar (que entra numa enseada formada pela primeira calanque: Port Miou) com inúmeros barcos ancorados: é o Clube Nautique de Port Miou. A vista mais bonita desta calanque, no entanto, só ocorre a partir da trilha que vai  a ladeando.

E olha um pedacinho da calanque de Port Miou com vários barcos ancorados visto da Avenue de Calanques


A trilha segue pela lateral oeste da calanque Port Miou. Veja na parte inferior do mapa a localização da calanque de Port Pin

À medida que você vai caminhando pela lateral da calanque de Port Miou, a vista vai se tornando cada vez mais bonita. As calmas águas de cor azul turquesa da enseada são um convite ao mergulho e muitos barcos param aqui para que seus tripulantes apreciem a calanque e mergulhem no mar. Alguns turistas, mais corajosos, descem as pedras, a partir da trilha, para mergulhar nas águas do Mediterrâneo. Mas nós não tivemos coragem nem recomendamos. Nesse ponto, a trilha começa a ficar mais difícil. Algumas áreas começam a escorregar e é preciso seguir com cuidado. Bloqueios de algumas trilhas começam a aparecer, alertando o turista para não se aventurarem por elas. Melhor não arriscar.



Calanque de Port Miou












Seguimos, então, para a Calanque de Port Pin que, como visto no mapa acima, fica próxima a Port Miou. Para acessá-la, no entanto, é preciso seguir por uma descida escorregadia, mas curta. Cordas ajudam neste trecho.

Descendo até Port Pin


Port Pin




Uma informação importante sobre as trilhas: há traços coloridos durante o caminho (em árvores e pedras) indicando o sentido de diferentes trilhas possíveis. Cada cor faz referência a um caminho diferente. Dizem que a cor azul indica o caminho mais bonito, com vista para o Mediterrâneo. Mas confesso que nos confundimos com as indicações e, no fim das contas, não consigo dizer, exatamente, que cor seguimos. Na verdade, muitas vezes, nós nos víamos seguindo, mesmo, era os demais turistas.

Traços de diferentes cores indicando diferente trilhas no caminho


Saindo de Port Pin em direção à calanque d´En Vau, estava por vir a parte mais difícil da trilha. Primeiro, uma longa subida. Enquanto parávamos para recuperar o fôlego, pessoas com o dobro da nossa idade passavam por nós sem aparentar ter o coração saindo pela boca. E olha que nem estamos num período sedentário da vida.

No fim da subida, veio a descida mais íngreme e longa, e sem corda para se segurar. Antes de descer, ainda cogitei seguir em direção ao mar para, lá do alto ver a calanque d´En Vau. A vista deve ser perfeita. Mas como estávamos com medo de perder muito tempo, já que teríamos um ônibus para pegar naquela noite, resolvemos prosseguir logo com a descida.

Este é o ponto mais alto ao qual se chega. Está vendo o vale lá embaixo? É lá onde temos que chegar

A esta altura já estávamos com muita sede, mas precisávamos economizar água para a volta. E o calor só aumentava. Ao chegar no vale lá embaixo, ainda pegamos um caminho contrário à praia  e seguimos por alguns metros desnecessários. Por sorte, percebemos a tempo.

A chegada à praia da última calanque foi um triunfo. A beleza do lugar justifica o esforço. E claro que, após tudo isso, eu não perderia a oportunidade de entrar naquela água. Confesso que estava geladíssima. A água mais fria que já entrei na vida. Mas foi bem refrescante considerando o calor que eu estava sentindo.

Enfim, chegamos à calanque d´En Vau










O aspecto inconveniente da praia (assim como em todas da região) é que ela não é formada pela areia com a qual estamos acostumados aqui no Brasil, mas por pedras (bem grandes por sinal) e que incomodam bastante os pés. Esta é a parte desagradável. E, como previsto, nenhuma estrutura vendendo água (a sede que nós sentíamos tinha dado um pouco de esperança de encontrar água para vender).

E aí veio a pior hora: fazer o caminho de volta. Neste momento, tudo que queríamos era um barco para nos levar de volta. Na ida, tudo é novidade e você é impulsionado pela vontade de chegar ao final. Já a volta... .

Voltando


Pior que ainda nos perdemos no meio da trilha. Por sorte, um casal de turistas bem mais acostumados com trilhas e também perdidos acabou reencontrando a trilha e nos indicou o caminho. E quanto mais andávamos, mais o meu cérebro só conseguia pensar em água. Naquele momento, eu trocaria fácil um milhão por um litro de água. E que alegria foi ver uma barraquinha vendendo água no final da trilha. Não resistimos e compramos a coca-cola mais gostosa das nossas vidas. E, enfim, entendi o ditado que cita "a última coca-cola gelada do deserto" como algo mega especial!

Na volta para o centro da cidade, compramos uma toalha para o banho de um euro e, após o mesmo, seguimos em busca de um restaurante para almoçar. Falei tanto da sede que esqueci de falar que também estávamos famintos. mas já era 16 horas e não havia um único restaurante funcionando. A solução foi comprar uma baguete recheado em uma padaria e comer sentado nas ruas de Cassis, seguindo, depois, para pegar o ônibus e o trem de volta à Marselha.

Ah! E não se assuste com o nosso relato. Há muitos idosos e crianças fazendo a trilha. Nós que não estamos acostumados!!


OBS:
1. Este post não recebeu nenhum tipo de patrocínio

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