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sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Um dia inteiro pela Provença

Inicialmente, nosso passeio pela Provença se resumiria a Marselha, para a qual seguiríamos de trem a partir de Lyon, após retornar da região dos Alpes Franceses. No entanto, como o clima não estava muito bom na região dos alpes, comecei logo a pensar em um plano B. Foi aí que recebemos um e-mail da companhia ferroviária cancelando nosso trem para Marselha devido à greve dos seus funcionários. Só nos restava uma solução: seguir com o carro alugado (cujo objetivo inicial era o de explorar os alpes a partir de Lyon) direto para Marselha, onde o entregaríamos à noite. E o que poderíamos conhecer no caminho entre as duas cidades? Uma rápida pesquisa na internet me trouxe a resposta: Gordes e Roussillon. 

Há muitas outras cidades e vilarejos na Provença, claro! Mas, para um dia de road trip, estas duas nos pareceram de bom tamanho. São cerca de 315 Km separando Lyon de Marselha. E, no caminho, já a cerca de 90 Km desta última, está o Parque do Luberon, um lugar que nos permite uma verdadeira imersão naquela Provença que, provavelmente, idealizamos quando imaginamos a região: pequenos vilarejos com suas típicas casas de pedra; plantações de frutas silvestres; e lindos campos floridos da clássica lavanda que dá fama a este pedaço da França.

Gordes, vilarejo da Provença


As típicas construções de pedra da provença

Plantação de frutas silvestres


Impossível não se encantar pela região enquanto se dirige o seu carro através das bucólicas estradas que vão passando por alguns dos vilarejos considerados os mais belos da França, como Gordes e Roussillon. Para a lista completa do Les Plus Beaux Villages de France, você pode clicar aqui.

Roussillon, vilarejo da Provença

Infelizmente, no entanto, a época em que visitamos a Provença (início de junho) não é a mais recomendada, uma vez que você irá perder um dos maiores atrativos da região: os belos campos lilás de lavanda, o produto mais típico da região e do qual provêm os famosos perfumes e sabonetes provençais. Os campos são, indubitavelmente, hipnotizantes, mas só começam mesmo a dar o ar da graça no final de junho, com o ápice em julho. No início de junho, vimos vários campos de plantação de lavanda, mas ainda verdes, e só nos restou imaginar a beleza lilás que cobriria o lugar após os campos florescerem. 

Mas calma!! A natureza quis nos presentear e ainda conseguimos encontrar um pequeno campo já florido. Talvez, uma tentativa da Provença de nos dar uma pequena amostra do que tem a oferecer para aguçar nosso desejo de um dia retornar. E se foi essa a intenção, deu certo!

Campo de lavanda, na Provença

Primeira Parada na Provença: Gordes

Havíamos pegado o carro alugado bem cedo na estação ferroviária de Lyon e já havíamos dirigido cerca de duas horas e meia, quando as típicas casas de pedra provençais começaram a se destacar na estrada, junto com inúmeras plantações que fazem da Provença uma região caracteristicamente agrícola. E sendo assim, não demoramos a encontrar barraquinhas na beira da estrada vendendo frutas frescas recém colhidas do pé. E enchemos duas grandes sacolas com morangos e cerejas da região.

Banca de frutas na beira da estrada

Morangos e cerejas frescos

Deliciosos


Confesso que nunca havia provado morangos tão suculentos nem cerejas tão deliciosas. O aroma e o sabor daquelas frutas vermelhas passou, então, a nos acompanhar enquanto nos aproximávamos de Gordes. Um excelente começo de dia!

Continuando viagem


E, de repente, o vilarejo de Gordes surge majestoso no nosso campo de visão. E, de imediato, entendemos o porquê dele ser considerado um doa mais belos vilarejos da França. Inúmeras casas de pedra dispostas em uma colina. Incrível!

Gordes


Logo na entrada do vilarejo, há um estacionamento pago onde os turistas deixam seus carros, seguindo a pé para o centro do lugar, localizado no ponto mais alto da colina. Não há erro. E a caminhada é curta Você verá o local para estacionar assim que estiver entrando na cidade.E prepare a câmera. Serão muitas fotos pelas ruas da pequena vila.

Foto tirada no estacionamento turístico de Gordes. A intenção era fotografar o estacionamento em si, mas as belas construções acabaram atraindo o foco da câmera.

Tem como não se apaixonar?


Naquele dia, no centro da cidade, demos de cara com uma típica feira provençal, que é montada em todas as terças pela manhã (e apenas nesse dia e horário). Entre os produtos mais vendidos, lavanda, claro. Saquinhos de lavanda para perfumar o ambiente. Sabonetes de lavanda em caixinhas de madeira (um excelente presente para se comprar na Provença). E até mel de lavanda. Aliás, havia mel de tudo: framboesa, morango, cereja, entre muitos outros sabores. Roupas da região. E souvenirs, obviamente! Algumas lojinhas permanentes de souvenir podem ser encontradas no centro do vilarejo, assim como charmosos restaurantes com suas mesas dispostas nas ruas de pedra da cidade.

Mercado de Gordes, montado todas as terças pela manhã


Parte da feirinha é montada ao longo do muro do Castelo de Gordes, no centro do vilarejo



Após explorar a feirinha, continuamos explorando a cidade, apreciando suas casas e a paisagem da Provença que se tem a partir do vilarejo. Afinal, Gordes está disposta, na verdade, em uma colina, permitindo uma excelente vista do vale do Luberon. E foi com uma dessas vistas, sentados numa ruazinha qualquer ao lado de algumas casas de pedra, que nos sentamos para saborear mais dos morangos e cerejas que havíamos comprado no caminho. Um daqueles momentos simples e únicos que ficam marcados durante uma viagem. Para nunca mais se esquecer!

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Aqui paramos para fazer nosso piquenique improvisado...

Com esta vista do Vale do Luberon


Terminado nosso piquenique improvisado, seguimos passeando pelo vilarejo. Bem no centro, ao lado de onde é montada a feira que descrevi estão os muros do Castelo de Gordes, cuja primeira versão foi construída no ano de 1031. A entrada custa apenas 4 euros, mas optamos por não entrar e preferimos passear pelo vilarejo.

O Castelo de Gordes







Na hora do almoço, escolhemos um dos restaurantes próximos ao centro e acabamos pedindo uma pizza, que estava deliciosa. De estômago cheio, era hora de seguirmos caminho. A próxima cidade seria Roussillon, mas, antes, pararíamos na Abadia de Senanque, famosa por suas plantações de lavanda.

Retornamos ao carro e, antes de seguir para a abadia, resolvemos retornar pelo caminho através do qual havíamos entrado na cidade, já que, ao chegar, havíamos visto inúmeros turistas parando numa espécie de mirante onde se tem a melhor vista e rende as melhores fotografias do vilarejo.

Este local da estrada que leva até o estacionamento oferece belas vistas de Gordes (vai ser difícil passar despercebido)




Vale ressaltar que a cidade mais próxima de Gordes é Avignon (cerca de 40Km), de forma que pode ser um destino a ser considerado para os turistas que estiverem visitando a cidade. Mas é, plenamente, possível também visitá-la a partir de Marselha. De preferência, no seu próprio carro, para poder ter a liberdade de ficar o tempo que quiser neste lindo lugar.


Segunda parada na Provença: Abadia de Senanque

Datada do século XII, a abadia medieval é habitada, até hoje, por monges que tiram da plantação de lavandas seu principal meio de sobrevida. E os campos de lavanda lilás em contraste com a arquitetura medieval da construção acaba sendo o principal motivo que leva os turistas até o local.

Abadia de Senanque


Plantações de lavanda no local

Imagina quando tudo florescer





Localizado a apenas 5 Km de Gordes (vilarejo ao qual a abadia pertence), bastou um pequeno desvio no caminho até Roussillon para conhecê-la. E valeu muito à pena, porque foi logo próximo à entrada da abadia que encontramos o pequeno campo florido de lavanda que diminuiu um pouco a nossa frustração por não estar visitando a região em julho.

Hora, então, de correr para o meio das lavandas para tirar fotos. Confesso, no entanto, que fiquei um pouco apreensivo com medo de ser picado por uma das inúmeras abelhas que polinizavam as flores. E o som impressionante do zumbido de todas aquelas abelhas juntas foi, particularmente, impressionante.

Campo de lavanda florescendo em frente à Abadia de Senanque





Na abadia em si, visitamos a loja do local, onde se vende livros e produtos produzidos a partir da lavanda cultivada no lugar. Visitas ao interior da abadia são permitidas entre 9:45 e 11 horas da manhã, exceto aos domingos e em algumas datas religiosas (que estão listadas no site oficial do local). Estas visitas não são, no entanto, guidas. Para tours guiados (apenas em francês) recomenda-se fazer reserva prévia no site da abadia. O custo é de 7,50 euros.

Note que há um código de vestimenta para os visitantes


Trajeto entre Gordes e Roussillon no Vale do Luberon. No canto superior, vê-se a localização da Abadia de Senanque


Terceira parada na Provença: Roussillon


O vilarejo cuja pronuncia não consegui descobrir até agora fica a apenas 12 Km de Gordes, de forma que a visita conjunta das duas cidades (incluindo a abadia) acaba sendo quase obrigatória. No trajeto, um pouco antes de chegar ao vilarejo, demos de cara com uma pequena e antiga ponte na beira da estrada, construída em uma área com umas árvores belíssimas. A vantagem de estar de carro: deu para parar e apreciar o lugar.

Não sei o que esta ponte representa nem quando foi construída, mas em comunhão com a natureza bucólica da região, formou um belo quadro.




Essa florzinha vermelha nos pareceu bem comum na região
Saímos apaixonados por estas árvores

Roussillon também está localizada no alto de uma colina e, assim como Gordes, tem um estacionamento pago logo na sua entrada. Você para o carro e sobe a ladeira caminhando até chegar ao centro da cidade (não é longe). 

Subindo a ladeira após deixar o carro no estacionamento turístico do vilarejo


Na ladeira que dá acesso à cidade a partir do estacionamento, há esta casa aberta à visitação (gratuita) que serve como uma espécie de museu histórico sobre os moinhos que eram usados na região



A fama do vilarejo vem da cor ocre característica com a qual todas as suas casas são pintadas. E as antigas construções da cidade chamam logo a atenção, através da harmonia da cor ocre dominante, quebrada pela diversidade de cores das portas e janelas.

Caminhando pelo centro de Roussillon




























Confesso que achei Gordes, com suas casas de pedra, mais bonita, até por serem construções mais clássicas da Provença. A cor típica do vilarejo de Roussillon, entretanto, não decepciona e é um convite para muitas fotos. E esta cor tem um motivo. Ela vem exatamente do ocre extraído de enormes rochas localizadas no próprio vilarejo. E essas rochas formam uma das atrações turísticas do lugar: Le Sentier des Ocres.

Trata-se, na verdade, de uma trilha através das rochas de ocres que, sinceramente, não teria a menor necessidade de ter uma taxa de entrada. Especialmente, por não ser algo exatamente imperdível. A cobrança nos pareceu mais uma forma de tirar dinheiro dos turistas. Ok! Estou reclamando demais: foi apenas 2,50 euros.

Com exceção do início da trilha que oferece uma bela visão da área rochosa de onde se extrai o ocre, o restante é, quase todo, no meio do mato, sem nada muito interessante para se ver. Há uma trilha mais curta, de 30 minutos (a que fizemos) e outra mais demorada, de 60 minutos (não sei se esta é mais interessante). Nós não recomendamos. Mas vai que você goste não, é mesmo? 

Le Sentier des Ocres

Esse é o início da trilha, a única parte que vale à pena conhecer

Muito mais agradável é passear pela própria cidade. O passeio pelos ocres debaixo do calor que estava fazendo só teve uma vantagem: nos fazer experimentar a água de uma fonte natural que saía de uma torneira próxima à entrada. Que água maravilhosa era aquela? Nunca havia experimentado uma água tão boa. Voltei mais duas vezes para beber e ainda enchi a garrafinha que tínhamos. Uma pena não poder levar mais. Sério!! Não deixe de experimentar!

No caminho para o Le Sentier des Ocres há também um mirante com excelente vista para o vilarejo. E bem próximo a este mirante, tem uma sorveteria na qual experimentei um sabor de sorvete que nunca imaginei existir: de lavanda. Na Provença tinha que ser, né? Mas não curti muito. Parecia que eu estava tomando perfume.

Melhor ponto para se apreciar a cidade é no trajeto até a entrada dos ocres




Por baixo do sorvete de caramelo, está o sorvete de lavanda


De Roussillon, seguimos por mais 100 Km até nossa quarta parada na Provença: a sua capital, Marselha, onde pernoitaríamos. Mas aí já assunto para outra postagem. O que importa é que esse passeio pela Provença foi uma grata surpresa no nosso roteiro e, sem dúvidas, um dos melhores dias de toda a viagem!


OBS:
1. Este post não recebeu nenhum tipo de patrocínio

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