Quando comecei a pesquisar quais lugares poderíamos conhecer enquanto dirigíamos pelo Peloponeso e me dei conta de que as opções de sítios arqueológicos eram inúmeras, veio a dúvida: quais deles conhecer? Corinto? Micenas? Argos? Epidauro? Não teríamos tempo para conhecer todos e Olímpia acabou sendo a opção escolhida para o primeiro dos dois dias de passeio pela península. Mas qual sítio conhecer no segundo dia?
Conheceríamos esta segunda zona arqueológica no retorno para Atenas, após voltar da ilha de Zakynthos e, se fôssemos seguir a lógica, teríamos escolhido Corinto por estar exatamente na rota que seguiríamos. Mas desde quando é a lógica que define as nossas escolhas quando viajamos?
Mas, afinal...
E cuidado para não se confundir: bem próximo ao sítio arqueológico, existe a cidade moderna de Epidauro (na verdade, são duas:
Nea Epidaurus e
Palea Epidaurus). Então, se estiver indo por conta própria, como nós, no seu carro alugado, procure por
Epidaurus Theatre no seu navegador.
Como chegar a Epidauro?
Acredito que o carro alugado seja a melhor forma, não apenas de se chegar a Epidauro, mas também a outros locais do Peloponeso. Mas, se você não quiser dirigir, há também outras formas: através de um tour contratado, saindo de Atenas; ou de ônibus, da empresa Ktel, que saem de duas a três vezes por dia de Atenas (da Kifissus Bus Station) em direção a Epidauro (a parte moderna, de onde você ainda deverá pegar um táxi até a zona arqueológica).
Neste link, você encontra os horários de saída do ônibus. A passagem custa em torno de 20 euros (30 euros se comprar ida-e-volta).
Outra opção é seguir de Atenas até a charmosa cidade de Nafplio (há vários horários de ônibus ao dia, que podem ser vistos no link dado acima) e, de lá, pegar outro ônibus até o sítio arqueológico de Epidauro, que se encontra a cerca de 30 minutos da cidade (a passagem custa apenas 4,20 euros). A vantagem deste trajeto é combinar, no mesmo passeio, tanto Epidauro como a bela Nafplio.
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Vejam como Nafplio é próxima a Epidauro. |
Informações práticas sobre Epidauro
O sítio arqueológico abre das 8 às 19 horas (pelo menos, durante o verão) e o ticktet custa 12 euros por pessoa. Há uma amplo estacionamento externo, de onde você segue um curto caminho até a bilheteria.
Antes de se chegar à bilheteria, há locais vendendo água, lanches e souvenirs. Há também banheiro público no interior da zona arqueológica.
O que conhecer em Epidauro?
Podemos dividir o passeio em, basicamente, 3 partes: o Teatro de Asclepio (na verdade, a grande atração do local), o pequeno Museu de Epidauro (que conta com artefatos encontrados nas escavações) e a área de ruínas dos templos e prédios que fizeram parte da antiga cidade.
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Mapa do sítio arqueológico de Epidauro, mostrando o estacionamento, o teatro e o museu. Percebam que este último fica entre o teatro e área das ruínas |
Logo ao chegar, escolhemos ir direto ao teatro, já que era a parte do lugar que mais queríamos conhecer. E bastou por os olhos no monumento para entender porque tantas pessoas o visitam diariamente. O Teatro de Asclepio, construído em homenagem ao antigo deus da medicina, é, realmente, impressionante. E está muito bem conservado para ser tão antigo (ele foi construído no século IV a.C, tem noção??).
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Teatro de Asclepio, em Epidauro |
Você pode subir e percorrer a sua arquibancada e, obviamente, não perdemos tempo. Queríamos ter a visão do teatro tanto de baixo, do seu palco circular, quanto de cima, do topo da sua arquibancada. Incrível ficar ali sentado imaginando o teatro lotado com cerca de 14 mil espectadores, aproximadamente, a sua capacidade total (o que fazia dele um dos maiores teatros da antiguidade).
E uma das principais características do teatro é a sua acústica, considerada perfeita. A perfeição dos arquitetos e engenheiros da época era tanta que, da mais alta arquibancada, é possível ouvir quem está no centro do palco, mesmo que falando em voz baixa. E você acha que nós dois não iríamos conferir isso?
Enquanto Técio permaneceu sentado lá no alto, eu desci até o chão e me posicionei em um círculo de pedra, milimetricamente, posicionado no centro do palco circular. E, então, falei normalmente, sem precisar aumentar o tom de voz. E Técio me ouviu perfeitamente lá do alto.
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No centro desse palco circular, tem um pequeno círculo de pedra, de onde você pode fazer a experiência de falar para ser ouvido lá do alto |
Incrível é pouco para descrever a forma como os antigos conseguiam utilizar a ciência em uma época e em um lugar em que os doentes eram ainda tratados a partir da interpretação dos sonhos. Ciência e mito se misturavam em Epidauro (na verdade, esta era uma mistura comum em toda a Grécia Antiga).
E, por falar em doentes, não vamos esquecer que o teatro foi construído em homenagem ao deus da medicina, como uma forma de cultuar o ser mítico que, segundo a crença da época, oferecia a cura a quem visitasse a cidade de Epidauro. Os doentes eram colocados em edifícios específicos, onde se acreditava que, durante os sonhos, Asclepio apareceria para contar como a doença poderia ser curada. E, assim, várias pessoas peregrinavam até a cidade, vindos dos mais distintos locais (inclusive, de Roma) em busca de solução para seus problemas de saúde.
Quer saber como Asclépio se tornou o deus da Medicina?
Asclépio era filho de Apolo com uma mortal, Corônis. Tendo herdado do pai, o dom da cura, ele foi crescendo e se tornando um grande conhecedor da arte da medicina, chegando ao ponto de começar a ressuscitar os mortos. Isto, obviamente, gerou a fúria de Hades, deus do Mundo Inferior, que começou a cobrar do Olimpo uma solução. Sendo assim, Zeus acabou sentenciando o próprio Asclépio à morte, lançando seu raio sobre ele. Apolo, no entanto, achando a sentença injusta e querendo honra-lo de alguma forma, o elevou à posição de deus da medicina. E, assim, os gregos passaram a erguer templos em honra ao, agora, deus Asclépio, através do qual, os médicos da antiguidade conseguiriam encontrar a cura para os seus doentes.
Após apreciar toda a grandiosidade do teatro, seguimos para a zona arqueológica que concentra as ruínas da antiga cidade, com destaque, como é comum na Grécia, para as ruínas dos templos antigos. Mas confesso que esta parte do local é menos impressionante do que outras áreas de ruínas vistas pelo país, restando pouca coisa de pé, em contraste com a incrível preservação do teatro (achei as ruínas de Olímpia, por exemplo, bem mais interessantes).
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Ruínas em Epidauros |
Há também o Tholos, antigo templo que servia para se deixar oferendas a Asclepio, que está em reconstrução, e o pouco que restou do Templo de Asclepio. São poucas as colunas vistas de pé ainda no local.
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Antigo templo em reconstrução |
Por último, deixamos o museu para ser visitado que é, na verdade, minúsculo. Praticamente, um único corredor. Como havia um grupo de excursão ouvindo as explicações de uma guia, o espaço ficou bem apertado lá dentro e acabamos não ficando por muito tempo.
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Museu de Epidauro |
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Adicionar legenda |
Vale lembrar que o ingresso inclui a visitação a todos estes lugares. Como não é um sítio arqueológico grande, acredito que uma hora a uma hora e meia seja suficiente para explorar a área, a não ser que você queira ler com calma cada placa presente no local.
Saímos de Epidauro bastante satisfeitos com a escolha, especialmente devido ao seu imponente teatro, que em decorrência da sua grandiosidade, da sua preservação e da sua curiosa acústica, merece demais uma visita.
Também saí de lá refletindo sobre o papel que o local exerceu na história da minha própria profissão. Ali, a medicina ainda era exercida de forma mítica, e embora houvesse a intervenção de "profissionais" considerados os médicos na época (ou asclepíades), seu papel era muito mais o de indicar a melhor forma de se obter a interferência de Asclépio do que a de conseguir a cura em si. O mais famoso de todos os asclepíades, Hipócrates, acabou entrando para a história como o fundador da ciência grega da medicina.
A Grécia é assim: um país cuja história influenciou muito do que conhecemos, hoje, no mundo ocidental. E ver tudo isso de perto não tem preço.
Próxima parada: Nafplio. Ou você achou que seguiríamos direto para Atenas? Ainda era dia, ora! E a charmosa Nafplio estava ali bem pertinho! Não resistiríamos jamais a dar um pulinho por lá...
OBS:
1. Os preços indicados neste post correspondem aqueles em vigência na época da viagem. Recomendo pesquisar novamente os valores das atrações na época da sua viagem.
2. Este post não recebeu nenhum tipo de patrocínio
Tenho muita vontade de conhecer a Grécia, mas tb me preocupo muito com o roteiro da viagem... me parece ser um destino difícil pra programar e planejar. Adorei as suas dicas e já vou anotar pra não esquecer de incluir Epidauro no meu roteiro!
ResponderExcluirQue lugar diferente! Muita história. Da pra ver a grandiosidade da Grécia antiga. Amo esse tipo de passeio. Obrigada por compartilhar!
ResponderExcluirAdorei conhecer sobre esse lugar, sem contar saber da história e relembrar um pouco de história da Medicina. Fantástico sobre a acústica, tambem quero ir la testar, rsrs
ResponderExcluirNossa, a Grécia é incrível demais!! Cada post que eu vejo de lá só me da mais vontade de conhecer!! Obrigada por compartilhar!
ResponderExcluirQue incrível pensar em um lugar aberto com a acústica perfeita! Ainda mais considerando o "detalhe" de ter sido planejado pelo povos antigos. Incrível, Amei!
ResponderExcluirO que eu mais gosto da Grécia é tipo muito louco ouvir sobre as datas de construção em "a.C.". É muito tempo, é muito choque de realidade (risos). E toda a mitologia envolvida... Bom demais. Permanentemente na bucket list!
ResponderExcluirA acústica do teatro meu lembrou Chichén Itzá em Cancún, pois lá tem esse mesmo sistema incrível. É impressionante ver como há tanto anos, num período sem essas ferramentas modernas que temos, era possível construir estruturas com tanta perfeição.
ResponderExcluirMuito me interessou o seu post, estou programando a minha ida! Seu post me ajudou em muitas dicas. Adorei as fotos. Parabéns!
ResponderExcluirUau.. que lugar mais imponente e encantador, amo conhecer sítios arqueológicos, e os meus preferidos até agora foram na Grécia e Turquia. Post show, me fez querer voltar a Grécia. abraços
ResponderExcluirA Grécia é uma incógnita pra mim. Fico babando e anotando por todas as dicas. Acredito que poucas pessoas exploraram a Grécia como vc. Geralmente a galera fala mais de lugares mais badalados e na minha opiniao, amo ler de lugares pouco visitados. Parabéns pelo seu relato.
ResponderExcluirAchei super interessante a história da Medicina, eu sou dessas que viajo junto com a história e fico imaginando com seria. A Grécia é o destino dos meus sonhos, e vejo que vocês exploram bem.. estou marcando todas as dicas. Abraços
ResponderExcluirTenho sonho de conhecer a Grécia e amei esse lado da Grécia que você nos apresentou, fascinante!
ResponderExcluirGente, que passeio irado! Essa Grécia me fascina!! Acho que os arquitetos dessa época eram muito bons mesmo! Como pode uma acústica dessa??? Amei o post
ResponderExcluirBeijos Glaucia
A Grecia tem sulares lindos e seus arredores são encantadores. Imagino a sua emoção ao sentar no teatro e tentar voltar no tempo... amei conhecer Epidouro
ResponderExcluirAdorei o relato. Geralmente só vemos fotos das praias gregas mas esses locais históricos são demais. É incrível pensar em tudo que se passou por aí nos tempos antigos né!! Me deixou com bastante vontade de conhecer.
ResponderExcluirAté a capital antiga tem cara de Atenas!! Linda demais! Grécia é única mesmo! Tá na minha lista faz tempo ��
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