O Peloponeso permeava vagamente a minha memória desde as aulas de história no colégio (alguém lembra da Guerra do Peloponeso?), mas confesso que nunca havia pensado em percorrer a região, muito menos de carro. No entanto, quando compramos a nossa passagem para Atenas e vimos que teríamos 9 dias na Grécia, automaticamente, colocamos como prioridade uma das ilhas do país: Zakynthos (queríamos muito conhecer a famosa Navagio Beach).
O problema é que, quando fomos pesquisar a melhor forma de se chegar à ilha partindo de Atenas, o avião pareceu a escolha óbvia, já que nos pouparia tempo. No entanto, apenas aeronaves muito pequenas voam para a ilha e quem nos conhece sabe que o nosso medo de avião não nos impede de viajar pra lá e pra cá, mas entrar em um aviãozinho com mais chance de turbulência nem pensar. Opção, rapidamente, descartada.
Foi, então, que percebemos que as ruínas de Olímpia, berço dos Jogos Olímpicos, que queríamos conhecer, localizava-se em pleno Peloponeso, a cerca de 1 hora do porto de Killini, de onde partem os ferries para Zakynthos. Então, por que não alugar um carro e partir dirigindo de Atenas, cruzando o Peloponeso rumo a Olímpia e, de lá, seguir até o porto? Afinal, o carro pode ser levado no ferry e, na própria ilha, ele seria necessário.
Decidimos, assim, pelo carro. Na ida, pararíamos em Olímpia, conheceríamos seu sítio arqueológico e, depois, seguiríamos para o porto, chegando, durante a noite, em Zakynthos. Na volta, cruzaríamos o Peloponeso no sentido inverso, em direção a Atenas. Foi aí que, com a decisão tomada, inevitavelmente, comecei a pesquisar sobre o Peloponeso e me encantei com a quantidade de atrações espalhadas pela região, as quais, infelizmente, não teríamos tempo para conhecer.
|
Vilarejo incrustado em uma das montanhas da Arcadia, região do Peloponeso |
Mas o que, exatamente, é o Peloponeso? A região é, na verdade, uma península (bem extensa, por sinal) que, atualmente, é separada do continente pelo Canal de Corinto, construído no final do século XIX, para ligar o Golfo de Corinto (na costa norte do país) ao Mar Egeu. Desta forma, ao dirigir de Atenas em direção ao Peloponeso, você atravessará a ponte que cruza o canal, entrando assim na montanhosa península. E quando escrevo "montanhosa" não estou exagerando.
|
O mapa mostra o Peloponeso circulado. Perceba que a península se liga ao restante do continente apenas por um estreito localizado próximo a Corinto |
Dirigir pelo Peloponeso é se aventurar por suas belas montanhas e, como o ser humano parece ter um atrativo por morar em lugares de difícil acesso, você acabará se encantando com os inúmeros vilarejos incrustados nas encostas que vão dando às caras à medida que avançamos na estrada. São várias as opções de pequenas cidades para se conhecer entre as montanhas, como Dimitsana e Stemnitsa, por exemplo.
O litoral do Peloponeso também tem o seu encanto, com destaque para a charmosa cidade litorânea de Nafplio que, inclusive, já foi a capital da Grécia. Os dois mares que banham o país, o Egeu e o Jônico, se juntam para embelezar o Peloponeso. E o que dizer, então, dos incríveis sítios arqueológicos espalhados pela região: Corinto (localizado no topo de uma montanha), Micenas (uma das mais importantes cidades da Grécia Antiga), Epidaurus (centro médico da antiguidade, famoso por seu anfiteatro, considerado o mais preservado da história), Olimpia (que já estava garantida no nosso roteiro).
|
Nafplio, cidade litorânea do Peloponeso, vista do alto durante o por do sol |
|
Sítio arqueológico de Epidaurus |
Obviamente, não seria possível conhecer todos estes lugares (até porque o foco maior seria Zakynthos), mas não resisti e acabei incluindo Epidaurus no dia em que retornaríamos dirigindo para Atenas. Afinal, teríamos, posteriormente, ainda três dias na capital grega (o que considero mais do que suficiente), de modo que não tínhamos pressa alguma de chegar a Atenas no dia do retorno.
Quanto aos vilarejos, resisti à tentação e acabei não escolhendo nenhum em específico para parar. Na verdade, deixei que o navegador do celular fosse nos levando rumo a Olímpia, e ficamos à espera das surpresas do caminho.
Alugamos o nosso carro pela Alamo do aeroporto de Atenas. Como chegamos na cidade de madrugada, reservamos um hotel próximo ao aeroporto (não faria sentido ir para o centro, que é bem longe, já que, ao amanhecer, já seguiríamos viagem até o Porto de Killini). Ficamos no Apartments Tina, o qual recomendamos bastante caso você apenas precise de uma pernoite perto do aeroporto. O serviço é simples, mas o quarto é confortável e limpo e o hotel conta com transfer constante de e para o aeroporto (gratuito). A diária nos custou apenas 25 euros para um quarto duplo. Eles nos pegaram no aeroporto e já marcaram o nosso retorno para pegar o carro alugado pela manhã.
Reservamos o carro pela Alamo, mas confesso que detestamos o serviço. Eles nos fizeram perder um tempo precioso apenas para entregar o carro. Os funcionários eram bastantes confusos e não nos explicavam o motivo da demora. Para completar, o carro ainda deu defeito a viagem inteira (frequentemente, ele não ligava após um tempo parado, gerando sempre uma tensão. Felizmente, após um tempo de espera, ele acabava funcionando).
Saímos, então, do aeroporto mais tarde do que queríamos. Ainda bem que o nosso ferry para Zakynthos sairia de Killini apenas às 20 horas (compramos o último horário já pra deixar nosso tempo mais flexível). O trajeto até Olimpia demoraria três horas e meia (lembrem-se que o Peloponeso é uma região montanhosa), mas fomos sem pressa e abertos à possibilidade de ir parando nos locais que nos chamassem a atenção.
No início, saindo de Atenas, as estradas eram planas e duplicadas, com alguns pedágios no caminho. E, assim, continuava até atravessarmos o Canal de Corinto. Infelizmente, acabamos nos distraindo e passando direto pelo canal sem pararmos para apreciá-lo. À medida que íamos adentrando no Peloponeso, as estradas começavam a margear as montanhas, deixavam de ser duplicadas e tínhamos que dobrar a nossa atenção, considerando as muitas curvas que iam surgindo à nossa frente.
Aqui abro um parêntese para reforçar que dirigir por esta região não é tarefa das mais simples, considerando seu relevo montanhoso. Junte a isto o fato dos gregos não serem considerados os motoristas mais cuidadosos do planeta. Na verdade, eles costumam correr, ultrapassando, com frequência, os limites de velocidade (será que aqueles radares funcionam mesmo? porque se funcionam, parte do salário dos gregos deve ser destinado ao pagamento de multas) e, não à toa, a Grécia lidera o número de acidentes de trânsito na Europa. Confesso que estas informações nos deixaram com um receio inicial de dirigir por lá, mas, no final, foi mais tranquilo do que imaginávamos. Basta dirigir com cuidado e sublimar algum grego que esteja impaciente na sua traseira.
E vamos combinar que a beleza das estradas acaba compensando. As montanhas do Peloponeso iam se juntando às inúmeras plantações de oliveira e embelezando cada vez mais o caminho. E, do nada, um pequeno e charmoso vilarejo surgia no meio das montanhas. A vontade era de parar em todos. Neste ponto, estávamos dirigindo por umas das regiões mais belas do Peloponeso, a Arcadia, famosa pelas belas montanhas e pelas pequenas cidades espelhadas por sua acidentada geografia.
|
As montanhas do Peloponeso começaram a se tornar mais frequentes à medida que adentrávamos a península |
A primeira dessas nossas paradas na Arcadia foi a cidade de Levidi. Estávamos apenas passando por dentro dela no caminho, quando demos de cara com sua praça central repleta de mesas ao ar livre e cheia de restaurantes ao redor. De frente para a praça, uma típica igreja grega ortodoxa. Não resistimos. Paramos o carro ali mesmo e resolvemos escolher um dos restaurantes para almoçar. Optamos por uma típica taverna grega.
|
Parando em Levidi |
|
Igreja ortodoxa em Levidi |
E, nesse nosso primeiro almoço tipicamente grego, duas coisas nos chamaram a atenção, uma positiva e outra negativa. Começando pela negativa: não é muito comum que os restaurantes gregos reservem a área interna do estabelecimento para os não-fumantes, ou seja, o fumo está liberado dentro ou fora, o que é, além de absurdo, insuportável (e este foi um problema que enfrentamos durante toda a viagem pelo país). E a coisa só fica pior porque, pasmem, os próprios garçons fumam dentro enquanto trabalham.
O ponto positivo: vários restaurantes tem a maravilhosa política de servir uma sobremesa de graça aos clientes ao final da refeição. Tem como não amar isso??
|
Taverna grega em Levidi |
E, assim, após algumas fotos da pequena cidade e um almoço com impressões tanto positivas quanto negativas, deixamos Levidi e seguimos viagem. Com o tempo, as estradas iam se tornando cada vez mais sinuosas e cada vez mais espremidas entre as montanhas. A esta altura, eu já imaginava que não veríamos nenhum outro vilarejo em um local de tão difícil acesso. Engano meu! Do nada, lá do outro lado de um vale entre duas montanhas, avistamos um monte de casinhas gregas dispostas ao longo da encosta de uma montanha. Com direito até a banquinhos estrategicamente posicionados no acostamento da estrada para que pudéssemos nos sentar e apreciar a cidade. Óbvio que paramos.
|
E do nada, surge Lagadia, pequeno vilarejo da Arcadia |
|
Bancos posicionados em direção ao belo vilarejo |
A cidade em questão se chama Lagadia. Após fotografá-la de longe, paramos também em uma das suas ruas. A maioria das casas, obviamente, não podem ser acessadas de carro, devido à localização. Andamos um pouco por ali e tiramos mais fotos, claro!
|
Lagadia |
Deixamos a cidade, seguindo, agora, pela estrada mais difícil do trajeto. Ainda mais sinuosa, estreita, cheia de ladeiras e com um precipício ao seu lado. A vista nesse ponto era linda, mas o cuidado quadruplicado na direção não nos deixava prestar muita atenção. Mas calma! Não é nada que faça você desistir de dirigir pela região. Acredite: vale à pena.
Nossa próxima parada seria em Olimpia, mas o local merece um post inteiro só para ele. De Olimpia dirigimos por cerca de uma hora até o porto de Killini finalizando nosso primeiro dia dirigindo pelo Peloponeso.
Após conhecer Zakynthos e retornar ao Porto de Killini, voltamos à estrada cruzando o Peloponeso, agora, no sentido inverso. Escolhemos o sítio arqueológico de Epidaurus para visitar. Desta vez, o navegador nos levou por uma estrada pela costa norte da península, margeando o mar em boa parte do trajeto e duplicada na maior parte da sua extensão. Apenas quando estávamos próximos a Corinto que fizemos o desvio ao sul pegando uma estrada que ia margeando as montanhas e ficando cada vez mais sinuosa até chegar em Epidaurus. De lá, não resistimos, e acabamos seguindo até Nafplio para jantar e conhecer, pelo menos, um pouquinho da cidade. Mas Epidaurus e Nafplio também merecem um post específico.
No final, ficou a certeza de que, se soubéssemos antes que o Peloponeso tinha tanta coisa para oferecer, provavelmente, teríamos reservado mais tempo para ele. Sem dúvida, gostaríamos de ter conhecido mais seus sítios arqueológicos e aproveitado melhor Nafplio e outras cidades da península, seja na costa litorânea seja na região de Arcadia. Mas você acha que não voltaremos à Grécia para fazer isso?
OBS:
1. Este post não recebeu nenhum tipo de patrocínio
Que viagem mais fantástica vocês fizeram!! lembro claramente da guerra de Peloponeso.. rs quero saber mais sobre a Grécia, contem tudo!!
ResponderExcluirAchei o máximo a aventura de vocês dirigindo por essas terras. Legal que esse é um lado da Grécia que a gente não conhece e paisagens diferentes tambem. Amo roadtrips. Espero ter oportunidade de fazer essa!
ResponderExcluirAchei super bacana a sua rota, porque sai daquela super batida. Mas fiquei com uma dúvida. Será que não poderia ir até a ilha de barco? Também acho o avião meio arriscado, considerando que ele deveria ser um monomotor. Nunca tinha ouvido falar sobre essa Península e adorei o seu registro. Dicas anotadas.
ResponderExcluirOi Dani!! Só há barco indo para a ilha saindo do Porto de Killini (no oeste do Peloponeso) ou das outras ilhas Jônicas. Não há barco indo direto de Atenas. :(
ExcluirQue ótimo post!!! Eu lembro da guerra do Peloponeso sim rsrs... estou pensando em Grécia como destino para lua de mel e já sei onde encontrar dicas e roteiros maravilhosos! Muito obrigada por compartilhar!
ResponderExcluirHaha, também penso imediatamente na Guerra do Peloponeso... Agora, engraçado. Enquanto vocês têm medo de avião, eu morro de medo é de carro, principalmente depois de nossa quase colisão frontal com um veículo desgovernado na contramão (que passou rente na gente, e saiu capotando para fora da rua).
ResponderExcluirDe toda forma, se o lugar tiver paisagens boas, acho que vale a pena! E é o caso, né? Tudo muito massa, definitivamente não é um "passeio de grego"!
E que problemão esse o do cigarro, hein? Quando for à Grécia, melhor levar uma máscara de oxigênio! XD
Valeu pelo ótimo post!
Grécia encantadora demais. Tambem aluguei carro por lá, mas foi só em Zak, me surpreendi com o preço, foi bem em conta mesmo, também observei que eles dirigem mto mal; ah, e também sofri com os fumantes kkkkkk. Post mto bom amigos, bateu saudades da Grécia. :)
ResponderExcluirO que mais gostei é que nos apresentaram uma "outra" Grécia! Adoro conhecer lugares mais diferentes (e lindos) assim. Adorei
ResponderExcluirConfesso a você que a Grécia é meu sonho de consumo rs... estou conhecendo um pouquinho mais através de vc, mas não gostei sobre os restaurantes, que coisa mais chata comer com alguém fumando, pior ainda garçon tb aff... absurdo né? .. Parabéns pelo post adorei todas as dicas abraços
ResponderExcluirNós por aqui adoramos viajar seja de carro ou de avião. Já andamos em alguns aviões pequenos em Zanzibar e St. Martin. Alugamos um carro e fizemos 4 ilhas jonicas, inclusive Zakynthos, mas não conhecemos Peloponeso, o que será um bom motivo p voltarmos à Grécia. Excelente post.
ResponderExcluir