Eu mesmo, confesso, nunca havia ouvido falar sobre esta religião. Apenas quando comecei a ler sobre Haifa, enquanto montava o nosso roteiro por Israel é que resolvi procurar saber sobre o que, exatamente, se tratava a Fé Bahá´í. Já achei incrível a sua proposta e filosofia, impressão que só se acentuou durante a nossa visita. Sem dúvida, é a religião com a qual mais me identifiquei até hoje.
E qual o motivo de eu ter me identificado tanto? Porque, entre os seus princípios, há algo que sempre acreditei e defendi: todas as grandes religiões do mundo veneram, na verdade, o mesmo Deus (elas apenas fazem interpretações diferentes e acabam brigando por isso). E para completar, descobri que a Fé Bahá´í defende, de forma enfática, a igualdade entre todos, independente de gênero, etnia ou qualquer diferença cultural e proclama o respeito à diversidade. Tem como não achar o máximo?
A Fé Bahá´í teve origem na Pérsia (atual Irã) no século XIX (impressionante imaginar ideais tão progressistas naquela época e em uma região, atualmente, tão presa ao tradicional). Bahá´u´lláh foi o fundador, tendo sido, obviamente, perseguido e exilado. Considerado pelos seguidores da fé como um dos mensageiros de Deus ou profeta (assim como Jesus, Maomé e Buda), acredita-se que Bahá´u´lláh foi enviado para difundir a ideia de unificação entre todas as religiões e de convivência harmônica entre as diversas culturas existentes.
Seu exílio ocorreu exatamente em uma prisão em Acre, localizada no atual território israelense, próximo à Haifa. Antes da sua morte, ele orientou seu filho (que deu sequência à difusão da fé) a construir a sede da religião no Monte Carmelo em Haifa.
Após o estabelecimento do Estado de Israel, depois da Segunda Guerra Mundial, os judeus dominantes fizeram um acordo com os seguidores da Fé Bahá´í: eles poderiam manter a sede administrativa e espiritual da sua religião em Haifa, desde que não tentassem catequizar os israelenses. E, assim, este acordo perdura até hoje.
Sorte a nossa, já que podemos conhecer os Bahá´í Gardens ao visitar Israel. Os jardins podem facilmente ser considerados um dos mais belos do planeta.
Todo construído na encosta do Monte Carmelo de frente para o mar, os jardins são compostos por inúmeras espécies de plantas, incluindo uma enorme variedade de flores, todas organizadas de forma simétrica junto a canteiros, esculturas, monumentos e escadas. Sua construção foi iniciada em 1987 sob a assinatura de um arquiteto iraniano, Fariborz Sahba.
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Bahá´í Gardens vistos do topo do Monte Carmelo. Os 19 terraços que o formam vão da base até o topo do monte. |
Na verdade, os jardins são compostos por 19 terraços que vão da base até o topo do monte. Mais ou menos no meio, fica o terraço central que abriga o mais importante monumento do local (e da Fé Bahá´i), o Templo de Báb.
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O Templo de Bab, localizado no terraço central dos jardins |
A visita aos Bahá´í Gardens são gratuitas e podem ocorrer em 3 níveis: a base, o centro (onde está o Templo de Báb) e o topo, não sendo possível a comunicação entre eles. Ou seja, para visitar tudo você terá que entrar e sair de cada nível.
Quando programei minha visita ao local, não encontrei na internet a localização exata de cada nível, o que acabou me atrapalhando bastante na hora (acabei conhecendo apenas dois, o central e o do topo).
Para facilitar a vida de quem estiver planejando visitar os jardins em sua totalidade, especifico abaixo a localização da entrada de cada nível:
1. Base: a entrada para se conhecer os terraços mais próximos da base está localizada na HaGefen Street, de frente a UNESCO Square.
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A seta mostra a entrada do primeiro nível dos Bahá´í Gardens |
2. Centro: a entrada fica localizada na Sderot Hatsiyonut, próximo à esquina com a Shifra Street.
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A seta mostra a entrada do segundo nível dos Bahá´í Gardens |
3. Topo: a entrada fica localizada na Yefe Nof Street.
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A seta mostra a entrada do primeiro nível dos Bahá´í Gardens |
E como chegar exatamente a cada uma das três entradas? Meu maior conselho é: vá de táxi. E dou este conselho após ter tido a péssima ideia de ir caminhando até as entradas. Sinceramente, não sei onde estávamos com a cabeça. Afinal, os jardins se localizam em um monte. Mas lá fomos nós achando que iria ser fácil.
Para começo de conversa, nós não tínhamos a localização exata de cada entrada. Então, após chegar em Haifa (já expliquei
como ir de Tel Aviv para Haifa) digitamos apenas
Bahá´í Gardens no
Google Maps. Quanto arrependimento!
Primeiro porque o
Google nos levou direto para o segundo nível, de modo que acabamos perdendo a chance de conhecer o primeiro. Segundo que foi, obviamente, bem cansativo subir ladeiras e escadas (como boa parte da cidade foi construída na encosta do monte, há muitas escadarias entre as casas; e lá fomos nós passando pelos quintais e jardins das residências alheias).
E querem saber o pior? Como duas mulas teimosas, resolvemos ir do segundo até o terceiro nível (no topo do monte) a pé também. Dá para acreditar? Na verdade, não vimos nenhum táxi na entrada do segundo nível. Então, resolvemos ir andando mesmo. Só que este trecho foi ainda mais cansativo que o primeiro. A única vantagem foi ir conhecendo com calma os bairros residenciais de Haifa e percebendo o quanto as casas iam ficando maiores e mais ricas à medida que chegávamos ao topo.
Mas não façam como nós! Peguem um táxi!
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Subindo as ladeiras de Haifa |
Sobre os jardins em si, já falei que eles são esplêndidos?
Assim que entramos no segundo nível, composto apenas por um dos 19 terraços, o maior e mais importante de todos, já que abriga o Templo de Bab, já ficamos boquiabertos com a beleza do lugar. Cada detalhe extremamente bem cuidado. A vontade é ficar horas ali apreciando e fotografando cada canteiro de flores, cada planta, cada composição visual.
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Os jardins do segundo nível |
Assim que entramos, os seguranças nos avisaram que, naquela manhã, estava aberta uma visita ao interior do Templo de Bab e que faltava apenas cerca de uma hora para ser encerrada. Demos sorte. Não exatamente pelo interior do templo, já que a única sala em que a nossa entrada é permitida não tem nada demais, mas pela explicação que uma menina dava na entrada do templo sobre a Fé Bahá´í.
Cada detalhe que ela nos contava, nos deixava ainda mais fascinado com a religião. Uma religião que agrega muito mais do que separa. No interior do templo, por exemplo, é permitido que qualquer seguidor de qualquer religião faça orações e leia trechos dos seus próprios livros sagrados. E nem vou falar novamente sobre o respeito à diversidade. O discurso da menina reforçava bastante isso.
Para entrar, todos devem tirar os sapatos. Não é permitido fotografar. Entramos em uma sala pequena, com um carpete e o túmulo de Bahá´u´lláh. Pelo que entendemos, funcionava como sala de oração.
Infelizmente, o acesso ao salão central, abaixo da bela abóboda do templo não é aberto ao turista. Mas nos contentamos em apreciar o belo monumento por fora. Ao redor, caminhos floridos e muito verde. Em frente ao templo, um terraço com vista para Haifa e para o primeiro nível dos terraços.
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Vista para Haifa |
Após nossa cansativa caminhada até o topo do Monte Carmelo, chegamos, exaustos ao último nível. Este, na verdade, corresponde mais a uma espécie de mirante com vista para todos os jardins. A área em que se permite o acesso dos turistas corresponde a alguns terraços, nos quais os visitantes se concentram para apreciar a incrível vista.
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Os terraços do terceiro nível dos jardins |
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Admirando Haifa e seus jardins do topo |
De lá vê-se os terraços abaixo, o Templo de Bab, a cidade de Haifa e o Mar Mediterrâneo. Subir até este nível vale demais à pena. A frustração fica por conta da proibição em se explorar os jardins que vemos ali tão perto, mas com a entrada proibida. Mas a gente entende. Questão de preservação.
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E a vontade de abrir aquele portão que limita o nosso passeio pelos jardins... |
Após conhecer o nível superior, estávamos famintos. Já havíamos ido do segundo para o último nível com fome, mas não havia nenhum lugar para comer no caminho. Aliás, mesmo os Bahá´í Gardens sendo a atração mais popular de Haifa, não encontramos nada nas proximidades das entradas dos dois últimos níveis, nem lojas nem restaurantes nem cafés. Nada!
Perguntamos, então, a um policial, que estava próximo aos jardins, onde poderíamos encontrar restaurantes por ali. Ele foi muito simpático e nos indicou o caminho para o que nos pareceu o centro do topo do Monte Carmelo, que estava bem mais movimentado do que o resto da cidade e que, para nossa alegria, apresentava alguns restaurantes abertos.
Alimentados, era hora de descer o Monte Carmelo. Como para baixo todo santo ajuda, a descida foi bem tranquila, embora estivéssemos bem cansados. Aproveitamos para ir apreciando um pouco da cidade além dos jardins. Como era dia do
shabat, tudo estava bem parado (exceto na área onde almoçamos).
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Os bem cuidados canteiros de Haifa |
Até consideramos seguir até o acesso ao primeiro nível dos jardins, mas estávamos tão cansados da subida anterior que preferimos pegar nosso
sherut de volta a Tel Aviv. O arrependimento bateu, quando a van passou exatamente de frente ao primeiro nível e percebemos o que perdemos de conhecer.
De qualquer modo, valeu muito à pena fazer este bate-e-volta a partir de Tel Aviv para conhecer não apenas a beleza dos jardins mas também para conhecer um pouco mais desta incrível religião, com a qual tanto nos identificamos. Uma religião que prega a unidade entre todos, mantendo, no entanto, o respeito às diferenças e particularidades de cada um. Amamos!
Infelizmente, não conseguimos descobrir o horário de funcionamento dos Bahá´í Gardens e o
website oficial do local continua fora do ar no momento em que escrevo esta postagem. Mas não custa nada tentar o acesso.
OBS:
1. Este post não recebeu nenhum tipo de patrocínio
Uma religião que prega a igualdade entre todos, independente de gênero, etnia ou qualquer diferença cultural e proclama o respeito à diversidade? Impossível não admirar. Acho que isso é mais do que uma religião, é uma filosofia de vida. E a beleza desses jardins? Estou absolutamente encantada com as fotos e sem dúvida gastaria o máximo de horas possíveis caminhando entre eles!
ResponderExcluirUauuu... ainda não tinha ouvido falar sobre essa religião também! Muito bom conhecer mais de outras culturas... Viagens sempre proporcionam essas descobertas maravilhosas. Além disso, os jardins são maravilhosos!! Um lugar lindo e que com certeza merece ser visitado!
ResponderExcluirNossa eu realmente não conhecia sobre essa religião, e é muito interessante que a sede dela fique em Israel! Gostei muito das suas explicações e me aguçou bastante a curiosidade sobre isso e sobre os Jardins. Tenho vontade de incluir Israel nos meus roteiros e quando fizer isso, os jardins entrarão com certeza.
ResponderExcluirBate e volta incrivel! Ainda bem que os jardins São tão belos. Se não já pensou a raiva de se matar subindo a pé! Obrigada pela dica pegarei o táxi sem pestanejar. E que bom saber que nessa região há uma religião tão bacana como a Bahá´í. Tá aí uma lição para o nosso próprio preconceito. Delícia de relato!
ResponderExcluirNão tinha a menor noção da existência dessa religião, estou completamente fascinada, o local parece de uma paz ímpar, além das belezas dos jardins. Amei de verdade! Obrigado por compartilhar conosco!
ResponderExcluirQue bacana essa religião, também não tinha ideia da existência dela, o respeito pela diversidade das outras religiões, poder entrar e orar independente da crença, sem contar esse jardim incrível e essa vista, adorei essa dica parabéns
ResponderExcluirUau... Lindo templo. Tive o prazer de conhecer o Templo de Lótus (que é o templo Bahai da Índia). Pesquisei um pouco e vi que os demais templos espalhados pelo mundo são lindos demais, com destaque para o de Israel... Valei demais ter conhecido cada detalhe através do seu blog. Abraços
ResponderExcluirQuem mandou não seguir as orientações da Angélica? Se estiver nesse lugar, vou de táxi com certeza! Até porque, sempre que invento um negócio desses, a minha esposa, que tem bom senso, me corta haha!
ResponderExcluirNunca tinha ouvido falar nisso, e estou impressionado com esses jardins. Lindos, lindos, lindos, e com esse Templo de Bab nas paisagens fica maravilhoso. A visão lá de cima também legal.
Nossa, cara, você visita cada lugar exótico que dá vontade de visitar também. Nem sabia que queria visitar isso! Fica na lista! Obrigado!
Wow, como eu nunca ouvi falar desse lugar antes?! Muito bonito! Me identifiquei muito com a busca pela igualdade também! Mais um destino pra lista! Ps: como pronuncia isso?
ResponderExcluirQuanto mais eu leio o posts de vocês sobre Israel, mais eu me dou conta que eu não tinha a menor ideia sobre o país.. Amei! Tô maravilhada com esses jardins! Nunca tinha ouvido falar deles e nem de Haifa! Obrigada por compartilhar um post super completo!
ResponderExcluirUau! 19 terraços!! O lugar deve ser bem grande, além de lindo e bem cuidado. É tão bom quanto visitamos lugares que respeitam a cultura do próximo e valoriza a individualidade de cada um. Eu estou amando os seus relatos.
ResponderExcluirDa próxima vez comprem um RavKav(Nil 13,50) que permite andar de ônibus ilimitado pela cidade,inclue aqueles que sobem o morro para os jardins e o funicular.
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