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domingo, 8 de julho de 2018

O que é preciso saber para fazer a travessia entre o Atacama e o Salar de Uyuni

A nossa viagem até Uyuni teve como ponto de partida a nossa ida a um casamento na cidade boliviana de Tarija (localizada próximo à fronteira com a Argentina). Compramos a nossa passagem para o Atacama e, após muito pesquisar, chegamos à conclusão de que a melhor forma de se chegar à Bolívia a partir do Chile, seria fazendo a travessia até Uyuni e, de lá, nos virar para chegar em Tarija (o que, na verdade, não foi nada fácil, já que viajar pelas estradas bolivianas não é uma tarefa das mais práticas).

No entanto, a travessia em si, por constituir um dos mais clássicos passeios turísticos da região, já é todo bem organizado e a única preocupação do turista é efetuar o pagamento, já que o roteiro e os pontos de parada são todos organizados pela agência contratada. Isto não significa, entretanto, que não precisa de algum planejamento, como especifico nas questões abaixo.

A travessia é feita, em mais de 95% do trajeto, em solo boliviano. Desta forma, uma vez partindo de San Pedro do Atacama, você logo passará pela fronteira e pelos procedimentos rotineiros da alfândega, para, então, entrar na Bolívia e percorrer a inóspita região de Potosi, atravessando reservas naturais, onde se tem contato com a natureza na sua forma mais selvagem, com mínima interferência humana e quase nenhum resquício de civilização. E torço para que assim continue (que nunca ninguém tenha a péssima ideia de construir um resort ou algo do tipo na região)!

Local da fronteira entre Chile e Bolívia, por onde passam as agências que fazem a travessia nos dois sentidos

Mas vamos a algumas dúvidas frequentes de quem pretende fazer o passeio:

01. É possível fazer a travessia nos dois sentidos?


Sim. Você pode iniciar a travessia tanto no Atacama como em Uyuni. Nos dois casos, a agência contratada, provavelmente, passará no seu hotel ou hostel para iniciar o trajeto. Da mesma forma, você pode optar por finalizar o passeio ao chegar no outro país ou fazer todo o percurso de volta, terminando na cidade de partida.

Notei, por exemplo, que vários turistas fizeram a travessia partindo do Atacama, mas retornaram a San Pedro após a chegada a Uyuni. Para aqueles cujo voo chega e parte do Chile, esta é a melhor opção para quem quiser incluir Uyuni na viagem. Já para quem vai seguir para outros destinos na Bolívia, o ideal é finalizar a travessia em Uyuni mesmo, como nós fizemos.

02. Quantos dias dura a travessia?


Depende. Se você fizer a travessia em apenas um sentido, começando em uma cidade e terminando em outra, serão dois dias e meio de travessia, incluindo duas noites. Mas caso você opte por retornar à cidade de origem, adicione mais uma noite e um dia à travessia.

03. É preciso reservar o passeio com antecedência?


Não necessariamente. Conheci muitas pessoas que deixaram para reservar o passeio já estando em San Pedro do Atacama. Mas se os seus dias estão milimetricamente organizados, tendo um dia exato para se chegar a Uyuni, aconselho que reserve antes para evitar surpresas, especialmente, se você estiver por lá durante a alta temporada.

Nós não podíamos, em hipótese alguma, atrasar a nossa chegada a Uyuni, devido ao casamento ao qual tínhamos que comparecer, de forma que preferimos garantir reservando o passeio com antecedência no website da agência.

San Pedro do Atacama e Uyuni têm diversas agências que fazem a travessia. Quase todas seguem um trajeto parecido, embora possa haver variações em relação à rota do segundo dia e ao local das hospedagens (mas, pelo menos que eu saiba, a pousada do primeiro dia continuará sendo bem precária independente da agência e do preço que você pague).

Escolhemos a agência Cruz Andina por indicação de um amigo. Como vantagem, a sua rota no segundo dia foi um pouco diferente da que a maioria das agências fazem (e preferi esta segunda opção, pelo que li na internet) e a comida servida foi excelente. Como desvantagem, não tivemos sorte com o nosso guia (mas contaremos melhor o que houve adiante).

Algumas das agências mais elogiadas: Cordillera Traveller, Expediciones Estrella Del Sur, Ayllu (esta é elogiadíssima e, embora mais cara, costuma deixar os viajantes bastante satisfeitos, oferecendo, inclusive, um tour privativo para realizar a travessia).

Claro que os preços irão variar bastante, de forma que vale à pena pesquisar o valor em várias delas, nunca esquecendo de checar as avaliações, para, assim, escolher o melhor custo-benefício. Uma dica, caso não queira reservar com antecedência, é deixar para fazer a pesquisa in locu, aproveitando para fechar todos os outros passeios na região com a mesma agência, o que costuma gerar um bom desconto.

No nosso caso, por exemplo, já havíamos reservado a travessia com a Cruz Andina, mas resolvemos ir até a sua loja em San Pedro do Atacama, assim que chegamos, com o objetivo de checar o valor para os outros passeios que pretendíamos realizar no Atacama. Assim que dissemos que já havíamos agendado a travessia com eles, o funcionário nos informou que nos daria um desconto caso fechássemos todos os outros passeios com a agência. Não pensamos duas vezes e o desconto foi, realmente, bem vantajoso.

Ah! E sobre o valor: na época (setembro de 2017) nos custou 180 dólares por pessoa (pagamos uma parte no ato reserva e o restante pessoalmente), incluindo a hospedagem durante as duas noites e a refeição.

04. Como é a hospedagem durante a travessia?


Precária é a melhor resposta. Ou seja, esqueça qualquer luxo. Você, provavelmente, terá que dividir o quarto com pessoas que acabou de conhecer. Embora não haja calefação, havia cobertores apropriados. Não se esqueça que, no deserto e, em altas altitudes, faz muito frio à noite. Para tomar banho quente é preciso pagar. Isso se você tiver coragem de tomar banho naquele frio todo. Eu encarei e não me arrependi. O preço da água quente é bem barato e não tinha perigo de eu ir dormir sem tomar banho (embora o sistema que esquenta a água tenha quebrado na hora que eu iniciei o banho, me fazendo esperar 45 minutos pelo conserto). 

A hospedagem da segunda noite, já próxima a Uyuni, costuma ser melhor e muitas agências colocam os turistas em um "hotel de sal". Mas confesso que o nosso era um pouco fake.

Chegando à hospedagem da primeira noite


Área externa da hospedagem


O nosso quarto na primeira noite. O botijão de água visto em cima da cama é um item essencial na sua bagagem, como explico abaixo.


O nosso "hotel de sal" da segunda noite. Pelo menos, as instalações eram melhores do que as da primeira noite.

05. O que levar na travessia?


Como falei acima, faz muito frio na região, especialmente, à noite. Então se recomenda levar todos os itens de vestuário que possam te proteger do frio (casaco, segunda pele, luvas, gorros, cachecóis). A temperatura durante o dia pode subir um pouco, de forma que o melhor é se vestir naquele esquema em camadas, para ir se adaptando ao longo do dia.

Se quiser entrar nas piscinas de águas termais que fazem parte do passeio, não deixe de levar roupa de banho. E toalha também é importante, já que você não as terá nos locais em que se hospedar.

Não esqueça também de levar óculos escuros (você passará por desertos). Colírio, protetor solar e protetor labial também são essenciais. O clima, além de frio, é super seco e, facilmente, você ficará com olhos e mucosas ressecados.

Mas o mais importante de tudo: leve água, pois não tem onde comprar durante a travessia (você vai, praticamente, passar dias sem sinal de civilização). Em San Pedro do Atacama, qualquer mercado vende aqueles botijões de água que, além de mais econômicos, facilita a sua vida por não precisar andar com várias garrafas. No nosso caso, um botijão foi suficiente por pessoa.

E não se esqueça de levar lanchinhos na sua mochila. Embora as três refeições do dia estejam garantidas, se a fome bater nos intervalos, você não terá onde comprar nada para comer. 

Por fim, um item que pode te salvar: papel higiênico. Você pode não encontrar este artigo de extrema importância durante a travessia...

06. Como é a alimentação durante a travessia?


Como já adiantei acima, as três principais refeições do dia estão garantidas no passeio e inclusas no valor pago. O próprio guia irá preparar o seu café da manhã, o seu almoço e o seu jantar. E, surpreendentemente para nós, a comida estava muito boa. Em nenhum momento achamos a comida ruim e ela foi sempre suficiente para todo o grupo. 

Na nossa agência (e acredito que as demais devem fazer o mesmo), foi nos perguntado se tínhamos alguma restrição alimentar. Informamos, então, que Técio era vegetariano e não faltou opção para ele durante todo o trajeto. A única parte chata foi o guia implicando o tempo todo com o fato dele não comer carne e fazendo piadinhas que foram se tornando cada vez mais irritantes. Mas este ainda não foi o problema maior que tivemos com ele. E verdade seja dita: bom cozinheiro ele era.

Para o almoço, o 4x4 costumava parar em uns locais fechados específicos ao longo caminho, onde várias agências também paravam para preparar o almoço dos seus passageiros. O jantar foi servido nos dois "hotéis" em que dormimos. Já o café da manhã foi servido, em duas ocasiões, ao ar livre, na última delas, em pleno Salar de Uyuni (quase um piquenique no meio do sal).



Nosso café da manhã sendo preparado no primeiro dia



Nosso café da manhã no terceiro dia em pleno Salar de Uyuni

07. Que preocupação deve-se ter com a saúde durante a travessia?


A primeira coisa que você deve saber é que o trajeto passa por altitudes que, em alguns pontos, passam dos 5 mil metros, de forma que o "soroche" ou mal da altitude é quase inevitável. No meu caso, a dor de cabeça foi uma companheira fiel de viagem e a falta de ar surgia apenas nos movimentos para sair ou entrar no 4x4.

Para minimizar os efeitos, lembre-se de beber muita água, evitar bebidas alcoólicas e caminhar devagar. 

Outro aspecto que, inclusive, já citei acima, é a baixa umidade do ar. Olhos, nariz e boca ressecados podem ser uma constante. Isso pode gerar sangramentos nasais e sua garganta pode ficar dolorida. A minha acordava doendo tanto que me fez acreditar que eu estava adoecendo. Portanto, hidrate-se bem.

08. É possível acessar a internet durante a travessia?


Não (pelo menos ainda não). Em nenhum local você terá WiFi e o sinal do seu celular não terá a menor chance de pegar durante o trajeto. E, sinceramente, adorei isso! Passar quase três dias sem celular foi um grande alívio! E considero isso fundamental para você conseguir se conectar com a natureza ao redor, assim como para se conectar com os demais integrantes da excursão.

09.   Com quem você dividirá a travessia?


Como já deu para perceber, toda a viagem é feita em um 4x4 comandado pelo guia (que, ao mesmo tempo, acumula as funções de motorista, mecânico, cozinheiro e fotógrafo. O nosso não cumpriu esta última função. Raiva até hoje!!)

E, obviamente, você não irá sozinho neste 4x4. O automóvel leva 6 pessoas (incluindo o guia), de forma que, exceto se você esteja em um grupo de 5 pessoas, desconhecidos irão viajar com você. Portanto, é preciso sorte para que seus companheiros sejam legais.

No nosso caso, tivemos esta sorte. Além de nós dois, o grupo era composto por uma outra brasileira, por um espanhol e por duas inglesas. O grupo se deu bem e a viagem com todos foi bem agradável.

O nosso 4x4

10. O que você conhecerá no caminho?


Vou dividir as atrações da travessia de acordo com o dia e com o trajeto que nós fizemos (indo de San Pedro do Atacama para Uyuni). A depender da agência, a rota pode ser um pouco diferente. O trajeto que fizemos, por exemplo, não passou pela "árvore de pedra". Em compensação, conhecemos a "Itália Perdida", um aglomerado de rochas com diversos formatos no meio do deserto. Portanto, lembre-se de checar com a agência tudo que você verá antes de fechar o passeio e opte pelo que mais te chamar a atenção.

Primeiro dia (o mais bonito de todos e com mais atrações):
a. Laguna Blanca
b. Laguna Verde
c. Deserto de Salvador Dalí
d. Termas de Polques (aqui é onde você pode tomar banho nas águas termais)
e. Gêiseres Sol de la Mañana (primeira vez que vimos lava fervente)
f. Laguna Colorada (surreal!!)

Laguna Blanca


Gêiseres Sol de  la Mañana


Laguna Colorada


Segundo dia (com menos atrações, envolve um tempo prolongado de tédio dentro do 4x4):
a. "Itália Perdida" (um conglomerado de rochas de diferentes formatos e alturas)
b. Laguna Negra
c. Cânion da Anaconda
d. Povoado de Colcha K (única parada da travessia onde era possível comprar algo para comer ou beber)

"Itália Perdida"


Laguna Negra


Povoado de Colcha K

Terceiro dia (o tour finaliza logo após o almoço):
a. Nascer do sol no Salar de Uyuni
b. Salar de Uyuni
c. Cemitério de trens

Salar de Uyuni


Salar de Uyuni


Cemitério de trens


Em outros posts, relatamos com detalhes como foram o primeiro, segundo e terceiro dias da travessia. Relembrar toda aquela beleza não foi nenhum sacrifício!!

11. A travessia vale à pena?


Se você chegou até aqui, já deve ter percebido que não se trata de um passeio fácil, com conforto e livre de perrengues. No nosso caso, o frio nos castigou à noite, a pouca umidade afetou nossas mucosas, a falta de ar e a dor de cabeça nos importunaram bastante e a precariedade das acomodações nos incomodou. 

Mesmo assim, vale sim à pena, considerando a oportunidade única de ver cenários que mais pareciam de outro planeta. Toda a região do altiplano boliviano é belíssima e o Salar de Uyuni é um local único e imperdível. Claro que você pode conhecer o salar voando para Uyuni e abrir mão da travessia. Mas, neste caso, você perderá todas aquelas lagunas de tirar o fôlego.

Outro aspecto negativo da nossa travessia foi o nosso guia. Fora as piadas irritantes, ele não tinha muita paciência em responder nossas dúvidas sobre os locais e nos deixava em pontos bem distantes das lagunas, nos fazendo caminhar bem mais do que os outros guias faziam com os seus ocupantes (e caminhar na alta altitude não é algo simples).

Mas o pior ficou para o final: ele se recusou a nos ajudar com as fotos no Salar de Uyuni. Enquanto todos que já fizeram o passeio relatam o quanto o guia ajudou a tirar as fotos, o nosso nem saiu do carro e resmungou quando eu fui pedir ajuda.

Lutando para tirar as fotos em perspectiva no Salar de Uyuni, já que nosso guia não nos ajudou em nada!!


A agência entrou em contato logo após o fim do passeio para saber se correu tudo bem e nós relatamos o ocorrido e nossa insatisfação com o guia. E este acabou sendo o único ponto negativo da agência.

De toda forma, somando, multiplicando e subtraindo tudo, o resultado final é que: sim! Valeu à pena!

Afinal, sair da zona de conforto sempre gera crescimento...

E tendo aquelas paisagens surreais como cenário então...


OBS:
1. Os preços indicados neste post correspondem aqueles em vigência na época da viagem. Recomendo pesquisar novamente os valores das atrações na época da sua viagem.

2. Este post não recebeu nenhum tipo de patrocínio

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