Quando se fala em uma visita ao Marrocos, Marrakech vem logo à mente como destino obrigatório. A cidade costuma estar presente na maioria dos roteiros que se faz pelo país e, alguns turistas, acabam se limitando apenas a explorá-la.
Mas, para dar início a este post, vou lançar logo a nossa impressão ao conhecer a cidade: não gostamos de Marrakech! E, dificilmente, voltaremos a ela em uma revisita ao país.
Ainda passamos por praças mal cuidadas, outras pouco arborizadas e ainda presenciamos angustiantes mal tratos animais: não tinha como ver macacos acorrentados para turista tirar foto e achar aquilo normal.
E olhe que nem culpo exatamente o marroquino que cobra por esta foto, até porque não podemos esquecer o contexto sócio-cultural daquele indivíduo. Mas não dá mesmo para entender o incentivo desta prática praticado pelos turistas que pagam pelas fotos. Se não houvesse quem pagasse, não haveria o mau-trato.
Junte a isto o assédio que beirava o insuportável dos vendedores e está pronta a receita para não termos curtido a cidade. Mesmo já tendo ido para lá sabendo que o assédio no comércio é pesado, não gostamos suficientemente da cidade para relevar este incômodo.
No entanto, gosto é gosto e sua impressão pode ser completamente diferente. Conhecemos muitas pessoas que foram a Marrakech e adoraram a cidade. Então, vá e tire suas próprias conclusões. E, para isso, deixamos abaixo algumas dicas para visitá-la.
Ficar dentro ou próximo à medina é a forma de ficar mais perto das principais atrações de Marrakech, sendo possível fazer tudo ou quase tudo a pé. Além disso, você tem a chance de ficar nos antigos riads marroquinos, já que muitos hotéis foram construídos no seu interior, mantendo sua arquitetura típica.
Os riads são conhecidos pelos seus belos jardins internos, em torno do qual se dispõem os cômodos da habitação. Quando você entra pela porta de madeira em uma parede suja e descascada da medina, parece que está atravessando um portal, já que nem dá para imaginar o que encontrará do outro lado. Confesso, inclusive, que a hospedagem em um riad foi um dos pontos altos da nossa visita a Marrakech.
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No riad em que nos hospedamos |
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A experiência é bem imersiva |
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Café da manhã no jardim do riad |
A recepção no riad também tende a seguir a tradição marroquina de receber bem seus hóspedes. No nosso caso, nos foi servido chá de menta e biscoitos e o funcionário foi extremamente simpático. Ficamos hospedados no Riad El Youssoufi.
Mas ficar na medina tem suas desvantagens: a maior parte das ruas não permitem o acesso de carro, de modo que, para achar seu riad, você terá que seguir a pé carregando sua mala. Além disso, encontrar sua hospedagem pode não ser nada simples, já que a medina é quase um labirinto. Aliás, vendo sua cara de turista perdido, certamente algum local irá se aproximar oferecendo ajuda. Rejeite, pois, mesmo que ele afirme que o ajudará de graça, não é verdade e ele tentará cobrar uma fortuna no final da "ajuda". Isto vale também para crianças querendo ajudar.
Portanto, tente reservar algum hotel que fique perto de alguma rua transitável de carro, embora descobrir isto só olhando o mapa não seja simples. No nosso caso, tivemos sorte. O carro conseguiu nos deixar a poucos metros e, com a ajuda do Google Maps, conseguimos chegar sem erro ao nosso riad. Preste atenção também nas placas ao longo das ruelas pois os hotéis costumam colocá-las na sua proximidade indicando o caminho.
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Recomendamos o Riad El Youssoufi |
Como se locomover
Como já falei acima, ficando hospedado na medina, você conseguirá fazer quase tudo a pé. Usamos o Google Maps no nosso celular para caminhar pela medina e conseguimos encontrar tudo. O tempo todo, algum marroquino aparecia se oferecendo para ajudar, mas sempre recusávamos por já saber que isto nos custaria dinheiro.
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Caminhando pela medina |
Caso precise ir para um local mais afastado, como aeroporto ou estação de trem, você precisará pegar um táxi (há pontos de táxi nos arredores da medina). Neste caso, o valor da corrida deverá ser combinado antes com o motorista. E eles variam sempre (havíamos, por exemplo, perguntado, pela manhã, a um taxista qual seria o valor para nos deixar à tarde na estação de trem. O valor aumentou 10 dirhams quando retornamos à praça de taxi mais tarde).
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O táxi em Marrakech |
Onde comer
Ao longo da medina, você encontrará vários restaurantes vendendo comida típica do país. Ao redor da Jemma el-Fna, por exemplo, principal praça da medina, há vários restaurantes e cafés. Muitos disponibilizam mesas no primeiro andar para quem quiser comer ou beber algo, especialmente no final da tarde enquanto acompanha o por do sol.
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Praça Jemma el-Fna. Em torno, há vários cafés e restaurantes |
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Mas a exploração animal no centro da praça nos afastou de lá. Macacos acorrentados esperam turistas para tirarem fotos. E ainda há as najas que os marroquinos fingem encantar. |
Nossa dica de café/restaurante é o Cafe Kif-Kif, localizado próximo à praça. Tem um ambiente muito agradável e excelentes opções de pratos, agradando tanto quem quer experimentar comidas típicas como quem prefere pratos mais conhecidos. Foi dica do simpático funcionário do riad onde ficamos hospedados.
Experimentei lá a Pastilla, uma espécie de massa folhada fina com açúcar, recheada com frango. Pode parecer estranho, mas o sabor agridoce me agradou bastante e me lembrou o típico pastel de festa, comum na Paraíba e em Pernambuco.
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A pastilla |
A pastilla foi meu prato marroquino preferido. Mas pelos restaurantes de Marrakech, inclusive no Kif-Kif, você poderá experimentar outras iguarias, como o cuscuz marroquino e o tagine.
O que conhecer em Marrakech
Além da Praça Jemma el-Fna e de passear pelas ruas da medina e conhecer os seus souks (são os mercados, parte da cidade mais fácil de se perder e por onde se vende de tudo: carnes, especiarias, tapetes, bugigangas), outros pontos turísticos da medina são:
1. Mesquita La Koutoubia: sua torre (miranete) é um dos marcos da cidade, podendo ser vista de vários pontos da medina. Não é permitido entrar no local caso você não seja muçulmano. Há duas praças em torno da mesquita, uma em sua lateral esquerda e outra, maior, por trás. Ambas não tão bem cuidadas, infelizmente.
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Mesquita La Koutoubia |
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Miranete da mesquita visto da praça da sua lateral esquerda |
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Mesquita vista da praça localizada logo atrás |
2. Palácio Bahia: construído com uma arquitetura chamada árabe-andaluz, no final do século XIX, o palácio é um dos locais mais bonitos de Marrakech. Talvez, por isso, tenha sido uma das atrações mais visitadas que conhecemos. Abre das 9 às 16h30 e o ingresso custa, atualmente, 70 dirhams.
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Palácio Bahia |
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Os belos detalhes da arquitetura árabe-andaluz |
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Um dos prédios mais bonitos da cidade |
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Os detalhes do teto também chamam a atenção |
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No pátio interno, não poderia faltar uma fonte d´água, algo comum nas construções marroquinas |
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Um dos lugares mais bonitos e bem cuidados de Marrakech |
3. Tumbas dos Reis (Saadiam Tombs): como o próprio nome indica, esta é uma necrópole onde foram enterrados vários sultões (e suas famílias) ao longo dos séculos. O local é pequeno e rapidamente visitado, mas achei a visita dispensável. Para ver os túmulos em si, é preciso entrar numa fila debaixo do sol quente até uma porta a qual o turista não pode atravessar. Confesso que não esperamos pois estava quente demais e não somos muito fãs de túmulos. Abre das 9 às 16h30 e custa, atualmente, 70 dirhams.
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Tumba dos Reis |
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A arquitetura é semelhante às demais construções da cidade |
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Há túmulos na área externa, mas para ver os túmulos dos sultões (de longe), é preciso enfrentar a fila que se vê nesta foto. |
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O lugar é bonito, mas é caro demais para o pouco tempo que se passa lá dentro |
4. Le Jardin Secret: um jardim típico da arquitetura marroquina, este foi um dos lugares que mais gostamos de visitar na cidade. Com mais de 400 anos de história, o jardim enaltece a arquitetura local e, como é comum aos jardins marroquinos, tem na água um dos seus principais elementos. Abre das 9h30 às 18h30 (em fevereiro e outubro), das 9h30 às 17h30 (de março a setembro) e das 9h30 às 18h (de novembro a janeiro). O ingresso custa, atualmente, 60 dirhams. Pessoas de 7 a 24 anos pagam 30 dirhams. Abaixo de 7 anos, é gratuito. Para maiores informações, visite o
site oficial.
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Le jardin Secret |
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Como em todo jardim marroquino, não pode faltar uma fonte d´água |
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A água tem um significado espiritual para os marroquinos |
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Por isso, há uma rede canalicular, espalhando água por todo o jardim |
5. Madersa Ben Youssef: uma antiga universidade, construída no século XVI. Estava em restauração durante a nossa visita e, portanto, fechada ao público. O ingresso custa 70 dirhams.
6. Museu de Marrakech: embora possua várias peças da arte marroquina, o que mais nos chamou a atenção foi a bela arquitetura palacial do prédio que abriga o museu. Abre das 9 às 18h30 e o ingresso custa 30 dirhams (bem mais barato e muito mais vantajoso do que as Tumbas dos Reis).
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Entrando no Museu de Marrakech |
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O salão central é muito bonito |
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A visita ao prédio vazio já valeria à pena |
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Entre as obras expostas, jarros marroquinos |
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Fascinados pela luz amarelada no interior do museu |
7. Emsable Artisanal Marrakech: espécie de centro de artesanato localizado próximo à mesquita, possui lojas de produtos marroquinos. Não tem o caos dos souks, mas os preços são bem mais salgados.
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Emsable Artisanal Marrakech |
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Claro que não faltaria um jardim no local |
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Nem detalhes da arquitetura marroquina |
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Nem fontes d´água, claro |
Todas as atrações citadas acima ficam próximas uma das outras e, em um dia, é possível conhecer todas elas, já que nenhuma requer tanto tempo para ser explorada. Entre elas, o turista pode ir apreciando (ou não) as ruas da medina, se deparando com portões da antiga cidade murada, e fugindo dos vendedores que não entendem a definição de assédio.
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Nem todas as partes da medina, achamos feia e suja |
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E alguns detalhes nos chamavam a atenção |
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Especialmente, as belas portas de algumas construções |
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Já os souks foram, na nossa opinião, a pior parte |
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Os banhos turcos são bem comuns pela cidade e não é raro encontrar placas indicando os locais. |
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E algumas partes da cidade deixavam bem claro o apelido de "Cidade Vermelha" |
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Em alguns pontos, encontramos o muro que envolve a cidade antiga (onde está a medina) |
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E alguns de seus portões |
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E algumas curiosidades também: como ninhos de cegonhas |
No entanto, há uma atração bastante popular da cidade que fica fora da medina e, portanto, um pouco mais afastada: o Jardim Majorelle, uma espécie de jardim botânico construído pelo pintor francês Jacques Majorelle e depois vendido ao famoso estilista Yvis St Laurent, que habitou a casa de forte tonalidade azul, construída por Majorelle em meio ao jardim.
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Jardim Majorelle |
Embora localizada a cerca de 2,5 Km da Praça Jemma el-Fna, nós encaramos a caminhada para chegar até lá e, se não fosse pelo sol escaldante de meio-dia, teria sido uma caminhada bem tranquila. A entrada do jardim fica na Rua Yves St Laurent (o estilista morou tanto tempo na cidade que acabou ganhando uma rua com seu nome) e, quase ao lado, você também pode visitar o Museu Yves St Laurent.
E aqui vai uma dica importante: as filas para comprar o ingresso costumam ser grandes e esperar do lado de fora em uma dia quente não será nada confortável. Mas a bilheteria do Museu Yves St Laurent, ali ao lado, também vende o ticket para o jardim, desvinculado do ingresso do museu. Ainda passamos um tempo na fila antes de obtermos esta dica e, assim que soubemos, corremos para lá, e compramos o ingresso sem fila nenhuma.
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Fila para entrar no jardim |
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Museu ao lado |
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E bilheteria sem fila |
Outra forma de fugir das filas é comprando o bilhete online no
site oficial da atração. O ingresso custa, no momento, 50 dirhams.
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Entrando no Jardim Majorelle |
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A diferença de temperatura é imediatamente sentida, devido à abundância de plantas e árvores |
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Coluna romana trazida de Tânger, que funciona como um memorial de Yvis St Laurent. As cinzas do estilista foram jogadas no jardim. |
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A vegetação do jardim é bastante rica |
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E contribui bastante para a beleza da atração |
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A casa onde viveu o estilista não é aberta ao público |
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Mas é possível visitar sua área externa |
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O forte tom de azul é a marca registrada do local |
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Uma fonte de água fica bem em frente à casa |
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E detalhes em amarelo contrastam com o azul predominante |
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E já deu para perceber que não faltam cactos por lá, né? |
O Jardim de Majorelle abre das 8 às 17h30 de 1 de outubro a 30 de abril e das 8 às 18h de 1 de maio a 30 de setembro. Na rua do jardim, há restaurantes, cafés e sorveterias. Há também um museu no seu interior, o Museu Bérbere, mas que não visitamos.
Por fim, uma outra atração (que não é bem uma atração, mas que tem uma arquitetura tão bonita que acaba se tornando uma) é a estação de trem de Marrakech. A arquitetura da construção é muito bonita e consegue ser moderna sem perder a essência da arquitetura local. Se você chegar ou deixar a cidade de trem, passará por ela.
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Estação de trem de Marrakech. Como deixamos a cidade de trem, rumo a Tânger, acabamos visitamos o local. É também ao lado da estação onde chegam os ônibus vindos de outras cidades, como de Ouarzazate. |
Quantos dias são necessários para conhecer Marrakech
Sinceramente, não achamos que mais de dois dias sejam necessários para explorar a cidade. Na verdade, conseguimos fazer tudo em um dia e meio e sem precisar correr. Sobrou tempo até para passar no riad e descansar. E, se você tiver apenas um dia, acredito que consiga ver o principal.
E, por favor, não terminem de ler este texto com a impressão de que eu só falei mal da cidade. Realmente, Marrakech nos decepcionou. Mas gostamos de muitas das atrações da cidade, em especial, do Palácio Bahia, do Jardin Secret e do Jardim de Majorelle.
De qualquer modo, achamos que o Marrocos vai muito além da cidade em torno da qual alguns turistas focam a sua viagem. Conheço pessoas que só visitaram Marrakech e dizem não ter gostado do Marrocos. Tivemos experiências bem diferentes e mais gratificantes em outros locais do país, como Ouarzazate, Merzouga e Chefchaouen. E até podemos não ter curtido tanto Marrakech, mas adoramos o Marrocos.
OBS:
1. Os preços indicados neste post correspondem aqueles em vigência na época da viagem. Recomendo pesquisar novamente os valores das atrações na época da sua viagem.
2. Este post não recebeu nenhum tipo de patrocínio
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